O
perfil de morbimortalidade pode ser considerado um indicador relativamente
sensível das condições de vida e do modelo de desenvolvimento de uma população,
Além disso, fatores ambientais e socioculturais devem ser considerados, não
sendo possível, portanto, separar o nível de mortalidade de sua estrutura e de
sua relação com fatores históricos, socioeconômicos, demográficos e ambientais.
O
declínio do coeficiente de mortalidade geral não é o único aspecto notável no
Brasil, o aumento da expectativa de vida da população e a modificação do seu
perfil epidemiológico foram observados.
Tomando
com exemplo a Inglaterra, no século XVIII, o principal fator responsável pelo
declínio da taxa de mortalidade foi a redução das doenças infecciosas, graças a
melhores níveis de nutrição alcançados com a Revolução Agrícola e com melhorias
estritamente ambientais (McKeown & Brown, 1956). Já no século XIX, três
quartos da redução da taxa de mortalidade deveram-se à menor prevalência da
tuberculose, como consequência da melhoria das condições de vida trazida pela
Revolução Industrial. O resto deveu-se à introdução de medidas de saúde
pública.
No
entanto, nos países desenvolvidos, neste século XX, três quartos da redução da
taxa de mortalidade deveram-se ao controle das doenças infecciosas, graças à
melhoria dos serviços de saneamento e de vigilância sanitária.
Entretanto
no continente africano aconteceu o inverso, particularmente a partir do século
XIX. A modificação das culturas tradicionais e da estrutura produtiva por parte
do colonizador reduziu a oferta de alimentos localmente e ainda, modificou a
forma de ocupação do espaço territorial e da relação humana com o meio
ambiente.
Na
América Latina, o impacto do desenvolvimento econômico no declínio da
mortalidade foi importante no início do século devido às medidas de saúde
pública e técnicas de medicina preventiva que foram então responsáveis por este
declínio. Durante o século XX, concluiu-se que, no estágio inicial da
transição, o declínio da mortalidade se dá, principalmente, através de medidas
de saúde.
Estas
interpretações relacionam-se com o desenvolvimento econômico ou com
intervenções de saúde o que as deixa um pouco incompletas já que a determinação
do perfil epidemiológico da mortalidade deve ser considerada como o resultado
de um processo dinâmico, tendo um peso diferenciado, de acordo com o local.
No
Brasil, a taxa geral de mortalidade decresceu de 18/1000, em 1940, para uma
taxa estimada entre 6/1000 e 8/1000 em 1985; a expectativa de vida cresceu 20
anos no mesmo período, e a mortalidade infantil decresceu de 160/1000, em 1940,
para 85/1000, em 1980. No entanto esses dados se referem a doenças infecciosas.
Já nas questões cardiovasculares, neoplasias e condições externas teve-se um
aumento, a primeira de 12% para 33% e o restante de 3% para 12%. Com isso, percebe-se
que o Brasil se encontraria, portanto, em pleno estágio intermediário de
transição epidemiológica.
De
maneira geral, pode se perceber segundo os autores que apesar da evolução do
perfil de mortalidade, estar obedecendo ao esperado na teoria da transição
epidemiológica, a desigualdade processual desta evolução pode ser observado,
por exemplo, as regiões brasileiras menos desenvolvidas, apresentam-se mais
elevada para as doenças infecciosas e parasitárias consideradas causas de morte
em situações de subdesenvolvimento, pobreza e privação, e mais baixas para as
doenças do aparelho circulatório e para as neoplasias.
É
de se esperar que este mesmo contraste seja observado entre áreas de
desenvolvimento diferenciado intra-regionais e entre subgrupos populacionais
submetidos a condições de vida também diferenciadas nestas regiões. Conclui-se
assim nas visões dos autores que no Brasil a transição epidemiológica para um
novo perfil de mortalidade ocorre com a simultânea persistência, embora
quantitativamente diferenciada, de ambos os perfis.
Esta
superposição de padrões fica ainda mais evidente quando se considera também o
perfil de morbidade. As chamadas endemias rurais, quando se urbanizam, incidem
e prevalecem desigualmente, atingindo preferencialmente as populações mais
pobres. Assim, as doenças infecciosas podem, portanto, voltar a assumir
proporção importante entre as causas de morte. Particularmente onde as
desigualdades sociais forem relevantes, uma vez que as doenças infecciosas
apresentam maior prevalência nas regiões de precária infraestrutura e entre as
populações mais pobres.
Além
disso, estudos feitos em países desenvolvidos, onde a transição epidemiológica
se completou há mais tempo, mostraram que mesmo as doenças cardiovasculares, as
neoplasias e as causas externas apresentam incidência e prevalência desiguais
entre regiões e grupos populacionais. Como exemplo disso, pode-se pegar
novamente a Inglaterra como referência onde, as mortes por causas externas que
envolvem adultos jovens, foram, segundo Blaxter (1983), sete vezes mais
prevalentes entre jovens das classes sociais mais baixas, enquanto as doenças
cardiovasculares se mostraram mais frequentes entre os operários.
No
Brasil, similarmente, Costa (1981) mostrou que a hipertensão arterial tem alta
determinação social onde através de estudos, percebeu-se que a proporção de
trabalhadores de baixa renda em uma população está relacionada com a
prevalência da hipertensão arterial. Já nos países desenvolvidos, vêm-se
demonstrando o declínio da prevalência dos grupos de causas pós-transição epidemiológica.
Desta
forma, estas doenças não seriam a consequência inevitável do processo de
envelhecimento da população e, portanto, doenças crônico-degenerativas
irredutíveis. Seriam preveníveis por serem o resultado de modificações, não
apenas no estilo de vida, mas também da relação do ser humano com o ambiente
onde vive e do qual faz parte.
Assim
sendo, as mudanças no modelo de desenvolvimento, no estilo de vida e no
comportamento assumem importância para a Saúde Pública, estando os pobres, como
vimos em desvantagem em relação aos ricos, quanto ao risco concomitante do
perfil de morbimortalidade do atraso e da modernidade. No Brasil, a
particularidade da observada transição epidemiológica traz para consideração, importantes
componentes socioeconômicos, culturais, demográficos e ambientais. Argumenta
que as doenças cardiovasculares e as neoplasias estariam também relacionadas
com fatores ambientais e socioculturais, não devendo ser consideradas doenças
crônico-degenerativas, mas sim preveníveis.
CONCLUSÃO PESSOAL.
O que se analisa com a leitura desse artigo é que em todo
lugar no mundo aconteceu ou está acontecendo um período de transição
epidemiológica e, onde antes se tinha mortalidade por um determinado fator,
agora se têm por outro fator, ou seja, se passa a se controlar fatores
endêmicos que prolongam a vida do ser humano temos uma maior incidência de
pessoas vivendo mais tempo e, com o passar dos anos teremos uma redução dos
problemas endêmicos, mas um aumento nos problemas relacionados à velhice
(problemas cardiovasculares, hipertensos, diabéticos entre outros) que se de
certa forma se agravam na velhice em muitos casos.
Assim sendo sempre há algo que se apresenta como
estatística a tal determinante, sempre aponta para as classes sociais menos
favorecidas isso por que nelas está associado à má alimentação, pouco
saneamento básico, além é claro de estes viverem em maior nível de perigo
violência e estarem desinformados quanto aos assuntos de prevenção as doenças
que se somam aos números e refletem nas estatísticas. Esse fator se justifica pelo
fato das pessoas mais pobres estarem também mais exposta a perigos e a situações
que comprometam sua saúde e integridade física.
Com base nisso fica clara a ideia do autor no ano de 1992
quando escreveu o artigo, em apontar o Brasil como estar ainda em um fator de
transição justamente por ter ainda uma grande diversificação na mortalidade ao
logo do seu território. Mesmo as estatísticas alegando uma queda nos números
ainda não concluímos essa fase de transição o que leva a crer que muito ainda
tem a se fazer.
REFERÊNCIAS
PRATA, Pedro Reginaldo. A
transição epidemiológica no Brasil. Cad.
Saúde Públ., Rio de Janeiro, 8 (2): 168-175, abr/jun, 1992.
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