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quinta-feira, 14 de março de 2013

A formação Territorial do Brasil



*Créditos no final do texto



O espaço brasileiro é resultado de uma sucessão de tempos históricos. O caráter litorâneo do povoamento e a monopolização do acesso à terra remontam ao passado colonial. A economia cafeeira, ainda nos tempos da República Velha, criou as condições necessárias à proliferação do fenômeno urbano e à industrialização.
O crescimento industrial registrado após a década de 1930, por sua vez, lançou as bases da integração econômica e geográfica do território e gerou os “desequilíbrios” regionais. A consolidação de um pólo industrial no Sudeste e de periferias industriais nas demais regiões redesenharam a geografia do país.
Nas últimas décadas, a abertura econômica e o novo caráter de inserção do Brasil nos circuitos globais de produção e consumo vêm produzindo impactos profundos na dinâmica territorial brasileira e alterando de forma substancial da divisão regional do trabalho no país. Os momentos cruciais de produção e valorização do território brasileiro, bem como os grandes eixos temáticos de análise do território brasileiro, são problematizados nos textos que compõem essa Unidade.

1. A Definição dos Limites Territoriais e o Processo de Ocupação do Território Brasileiro
Em sua gênese, o processo de formação territorial do Brasil está associado à empresa colonizadora. As sucessivas ampliações da fronteira produtiva da América Portuguesa, definindo focos de produção e consumo dispersos pelo território, assim como o esforço da Coroa Portuguesa (e, mais tarde, do Império Brasileiro) no sentido de assegurar a posse das bacias hidrográficas e das rotas e caminhos considerados estratégicos, alimentaram a conturbada história da ocupação do território e do traçado das atuais fronteiras brasileiras.

A implantação da empresa agrícola colonial na América Portuguesa foi uma iniciativa inovadora e arrojada: no século XVI, nenhum produto agrícola era objeto de comércio em grande escala na Europa. As transações comerciais a longa distânciaeram restritas às mercadorias cujo valor pudesse compensar os altos custos de transporte, tais como produtos manufaturados e especiarias vindas do Oriente. As ilhas atlânticas de colonização portuguesa foram o laboratório da grande empresa agrícola que iria ter lugar na América Portuguesa. Nessas ilhas – Madeira, São Tomé, Cabo Verde e Açores –, a monocultura canavieira era praticada desde o século XV.

As primeiras mudas de cana foram trazidas ao Brasil por Martim Afonso de Sousa, em 1531. Dois anos mais tarde, seria construído o primeiro engenho de açúcar da colônia, na vila de São Vicente. Em pouco tempo, a lavoura canavieira seria introduzida na Zona da Matanordestina. O clima quente e úmido da região bem como a topografia suave e a presença de solos extremamente férteis (conhecidos como solos de massapê) ofereciam condições ideais para o plantio da cana. Na segunda metade do século XVI, a região nordeste da colônia – em especial as capitanias da Bahia e de Pernambuco – havia se firmado como o centro da empresa agrícola colonial. Vastos latifúndios canavieiros, cultivados por mão-de-obra escrava e dotados de um engenho de produção de açúcar, eram a unidade básica dessa empresa.

O açúcar produzido nos engenhos era transportado pelos rios ou em carros de boi até os grandes portos exportadores: Recife e Salvador. Esses centros urbanos funcionavam como elos de ligação entre as regiões produtoras e os mercados consumidores de além-mar. Por isso, sediavam as principais instituições administrativas e comerciais da colônia.

A empresa açucareira implantada pelos colonizadores no século XVI ocupava somente uma estreita faixa costeira do imenso território luso-americano. Porém, no século XVII, novas atividades econômicas foram implantadas, e a fronteira produtiva do território colonial conheceu sucessivos alargamentos. O sucesso comercial do açúcar nos mercados europeus estimulou o aumento da área canavieira da Zona da Mata nordestina: no século XVII, as terras de pasto dos engenhos se transformaram em canaviais. O gado foi expulso das terras nobres da fachada litorânea e ganhou os sertões.

Partindo da Bahia e de Pernambuco (os dois maiores núcleos da produção canavieira), a pecuária se expandiu na direção do Rio São Francisco, que passou a ser conhecido como o “rio dos currais”, e do Rio Parnaíba. Os índios que se opuseram a essa marcha colonizadora sobre o sertão sofreram uma verdadeira guerra de extermínio.

No fim do século XVII, grandes fazendas de pecuária extensiva dominavam a paisagem do sertão nordestino. Nelas, poucos homens livres – negros libertos, índios e brancos pobres – eram suficientes para cuidar do rebanho e transportá-lo para as feiras de gado da Zona da Mata. Nos entroncamentos dos caminhos do rebanho, pontos de contato entre o sertão pastoril e o litoral agrícola, surgiram inúmeros povoados, embriões das cidades sertanejas do nordeste brasileiro.

Na Capitania de São Vicente, a prosperidade da empresa açucareira vicentina durou muito pouco: já na segunda metade do século XVI, os sinais de decadênciaeram evidentes. A estreiteza da fachada litorânea, comprimida pela proximidade da Serra do Mar, e a predominância de solos rasos e pantanosos desestimulavam a ampliação da agricultura canavieira na região. As maiores distâncias em relação aos portos europeus encareciam os custos de frete. O açúcar vicentino sucumbiu à concorrência do açúcar nordestino. O fracasso da empresa agrícola exportadora produziu um verdadeiro despovoamento do litoral vicentino. Os colonos paulistas galgaram a Serra do Mar e se estabeleceram nas vilas fundadas no planalto.
São Paulo de Piratininga, fundada pelos jesuítas em 1554 e elevada à categoria de vila seis anos depois, se tornou o maior núcleo de povoamento da capitania ainda no século XVI. Um velho caminho indígena, o Caminho do Mar, era a principal via de ligação entre o litoral e os campos de Piratininga, que abrigavam a vila de São Paulo. Nos arredores da vila, os colonos praticavam a policultura de subsistência, utilizando a mão-de-obra dos índios escravizados. O apresamento e escravização dos índios era o principal meio de enriquecimento para os colonos da capitania. Os índios, além de serem necessários na policultura de subsistência, eram uma mercadoria de fácil transporte: podiam atravessar andando os difíceis caminhos do sertão e da serra.

No século XVI, o apresamento dos índios permaneceu restrito aos arredores dos campos de Piratininga. No século XVII, a desorganização do tráfico negreiro, conseqüência das guerras holandesas, ampliou o mercado de índios escravizados nas regiões produtoras de açúcar. As bandeiras de apresamento ganharam o interior, aproveitando os cursos fluviais e abrindo caminhos terrestres. As reduções jesuíticas em território hispano-americano eram o principal alvo do bandeirantismo de apresamento: nelas, os índios estavam concentrados e domesticados. As freqüentes incursões às reduções localizadas às margens do Rio Paranapanema (atual Estado do Paraná) foram responsáveis pela transferência de muitos desses aldeamentos para a província argentina de Missões, entre o alto curso do Rio Paraná e o alto curso do Rio Uruguai.

Na segunda metade do século XVII, a principal finalidade das expedições bandeirantes era a localização de jazidas de prata, ouro e pedras preciosas. O empreendimento contava com o apoio da Coroa lusitana, que contratou diversos sertanistas para organizar e comandar as bandeiras de pesquisa.

A exportação de fumo assumiu importância nas receitas coloniais portuguesas na metade do século XVII. Produzido principalmente no Recôncavo Baiano e em Alagoas, o tabaco era exportado para mercados europeus, além de servir de moeda de troca com os aparelhos negreiros da costa africana. Também no século XVII, intensificaram-se as expedições oficiais pelo vale amazônico. Elas tiveram um sentido predominantemente geopolítico: tratava- se de expulsar holandeses e ingleses, senhores de muitas feitorias ao longo do curso dos rios, e impedir o contrabando de produtos nativos tais como madeira e pescado.

O Forte do Presépio de Belém, fundado em 1616, foi a ponta de lança da estratégia colonizadora da Coroa Ibérica no grande norte. Situado na foz do Rio Amazonas, esse núcleo de povoamento deveria centralizar a exportação das mercadorias e sediar os órgãos do poder metropolitano sobre a região. Plantas nativas, tais como o urucu, o cacau selvagem, o guaraná, a castanha-do-pará, o gergelim, a salsaparrilha e o pau-cravo, eram as principais mercadorias de exportação. Os aldeamentos indígenas controlados pelas diversas ordens religiosas representadas na região amazônica funcionavam como uma reserva de coletores dessas “drogas do sertão”. O excedente alimentar das missões contribuía para o abastecimento de Belém e das pequenas cidades que surgiam na região.

Após a Restauração, a Coroa lusitana intensificou a ocupação militarizada da região. Uma rede de fortificações portuguesas foi construída seguindo a calha central do Rio Amazonas. (ver RICARDO FRANCO, um dos três grandes MACHOS da história do Brasil, juntamente com Ajuricaba, que acabou virando boto e está aí até hoje & Salvador de Sá, que arruinou o nome da família.)

Nas últimas décadas do século XVII, a confirmação da existência de metais preciosos nas regiões planálticas de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás promoveu um afluxo populacional sem precedentes na história colonial, alargando substancialmente a faixa de ocupação do território luso-brasileiro. 

Os principais afloramentos auríferos e diamantinos estendiam-se da Bacia do Rio Grande até as nascentes do Rio Jequitinhonha. Os mais importantes núcleos urbanos das Minas Gerais floresceram nessa região: Vila Rica de Ouro Preto, Mariana, Caeté, Sabará, Vila do Príncipe, Arraial do Tijuco e outras. Em torno desses núcleos, apareceram zonas de povoamento mais disperso, próximas às minas do Rio Verde, Itajubá, Minas Novas e de Paracatu.

Todos os esforços produtivos da região mineradora estavam concentrados na extração de metais e pedras preciosas. Os caminhos abertos para a exportação desses produtos e para o abastecimento das Minas Gerais transformaram a geografia do Centro-Sul colonial.

Desde o final do século XVII, as bandeiras paulistas rumo aos sertões do Rio São Francisco seguiam dois caminhos principais, que ficaram conhecidos respectivamente como Caminho Geral do Sertão e Caminho Velho. O primeiro partia de São Paulo, rumando para Jundiaí, e seguia na direção do Rio Grande. Transposto esse rio, buscava a Serra das Vertentes e daí ganhava o São Francisco. O segundo, mais utilizado, seguia o curso do Rio Paraíba do Sul, passando por Mogi das Cruzes, Laranjeiras, Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá, atravessava a Serra da Mantiqueira na altura da passagem de Hepacaré (atual Lorena) e buscava o sertão do Rio das Velhas. Em média, os caminhos paulistas demandavam dois meses de viagem até a região mineira.

No início do século XVIII, tropas de mercadores ganharam os caminhos bandeirantes. Os gêneros alimentares produzidos nos arredores das vilas paulistas atingiam preços exorbitantes na região mineradora. Na retaguarda da economia mineira, a agricultura paulista se expandiu rapidamente. A criação de gado primeiro ganhou os campos de Paranaguá e Curitiba, para logo depois atingir os distantes campos sulinos do Rio Grande do Sul e do Uruguai, transformados em centros de criação de muares. Centros urbanos importantes floresceram e prosperaram nos caminhos de gado: Sorocaba (onde se realizavam as grandes feiras), Itapetininga, Faxina, Pirapora, Cabreúva, Apiaí, Itararé, Avaré e outros.

A curva demográfica, alimentada pela constante imigração lusitana, acompanhou esse surto produtivo: no início do século XVIII, a capitania vicentina contava com 15.000 homens livres. Em 1777, os documentos oficiais registram uma população livre de 116.975 habitantes.

Ainda na primeira década do século XVIII, a Coroa lusitana, preocupada com o contrabando da produção aurífera, mandou construir um caminho que ligasse a região mineradora e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. O Caminho Novo tinha duas variantes: uma seguia até o porto de Pilar e galgava a Serra do Mar; a outra contornava a Baixada Fluminense e subia o Rio Santana. Ambas se encontravam perto da cidade de Paraíba do Sul e daí seguiam na direção de Correias, Juiz de Fora, Barbacena etc. Pelo Caminho Novo era possível atingir a região das Minas Gerais em apenas dezessete dias. 

A abertura do Caminho Novo canalizou para o Rio de Janeiro a maior parte dos lucros do comércio com o hinterland mineiro. O porto do Rio de Janeiro – transformado em boca das minas – se tornou o mais importante porto da colônia em volume de comércio exterior, escoando a maior parte da produção aurífera e diamantina e centralizando as importações necessárias ao funcionamento da empresa mineira. Além disso, tornou-se ponto de passagem obrigatória das levas de imigrantes portugueses atraídos pelo ouro e dos lotes de mão-de-obra negra destinados ao trabalho nas minas. A prosperidade econômica, tributária dessa relação privilegiada com os mercados das Minas Gerais, iria transformar o Rio de Janeiro em sede administrativa do Vice-Reino do Brasil no ano de 1763.

A pecuária do sertão nordestino também conheceu um período de prosperidade no século XVIII: os currais do Rio São Francisco despejavam boiadas inteiras na região das Minas Gerais. A topografia da região favorecia a condução das boiadas até as zonas mineradoras. Além do gado, os Caminhos Baianos sediavam um intenso – apesar de rigorosamente proibido – comércio de negros, uma mercadoria muito mais valiosa nas Minas Gerais do que nas tradicionais regiões açucareiras da Zona da Mata.

Na metade do século XVIII, os limites traçados no Tratado de Tordesilhas estavam definitivamente ultrapassados: a assinatura do Tratado de Madri, no ano de 1750, oficializou a incorporação de vastas possessões espanholas ao território colonial português.

Regina Célia Araújo / Manal da Funag de Geografia 2a edição. Publicação original  realizada por Raquel Mendes em 07 de dezembro de 2010 (  http://fichasmarra.wordpress.com/2010/12/07/ii-a-formac%CC%A7a%CC%83o-territorial-do-brasil/ 

Breve resumo sobre a Formação e Organização do Território Brasileiro



O território do Brasil ocupa uma área de 8 514 876 Km². Em virtude da extensão territorial, o Brasil é considerado um país continental por ocupar grande parte do continente da América do Sul. O país se encontra em quinto lugar em tamanho de território.

A população brasileira está irregularmente distribuída, pois grande parte da população habita em região litorânea do território, onde se encontram as maiores cidades do país. Isso nada mais é do que herança histórica, a forma com que o Brasil foi povoado, os primeiros núcleos urbanos surgiram no litoral.
Até o século XVI o Brasil possuía apenas a área estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 por Portugal e Espanha, tratado que dividia as terras da América do Sul entre Portugal e Espanha.
Os principais acontecimentos históricos que contribuíram para o povoamento do país foram:

No século XVI: a ocupação se limitava ao litoral, a principal atividade econômica desse período foi o cultivo de cana para produzir o açúcar, produto muito apreciado na Europa, a produção era destinada a exportação. As propriedades rurais eram grandes extensões de terra, cultivadas com força de trabalho escrava. O crescimento da exportação urbanizou o litoral com os primeiros centros urbanos, as cidades portuárias.

Século XVII e XVIII: foram marcados pela produção pastoril que adentrou a oeste do país, e também pela descoberta de jazidas de ouro e diamante nos estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Esse período foi chamado de aurífero, no qual fez surgir várias cidades.

Século XIX: a atividade que contribuiu para o processo de urbanização foi a produção de café, principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Essa atividade contribuiu para o surgimento de várias cidades.

Eduardo de Freitas
Graduado em Geografia

Fonte de pesquisa:
http://www.brasilescola.com/brasil/formacao-organizacao-territorio-brasileiro.htm

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Geografia Política e Geopolítica





O Que é Geopolítica? e Geografia Política? 



É frequente a confusão entre geografia política e geopolítica, que na verdade são imbricadas, se sobrepõem em grande parte, mas não se identificam totalmente. Existe uma história de cada um desses saberes que mostra suas origens, suas especificidades, embora em alguns momentos eles tenham se mesclado, se identificado.

A expressão geografia política existe há séculos. Há inúmeros livros dos séculos XVII, XVIII e XIX com esse título. Mas considera-se que geografia política moderna, pelo menos tal como a entendemos hoje -- isto é, como um estudo geográfico da política, ou como o estudo das relações entre espaço e poder -- nasceu com a obra Politische Geographie [Geografia Política], de Friedrich RATZEL, publicada em 1897. Ratzel, na verdade, não criou o rótulo "geografia política"; ela apenas redefiniu o seu conteúdo, apontando para o que seria um verdadeiro estudo geográfico da política, uma concepção de política que muito deve à leitura de Maquiavel. Antes dele era comum encontrar em obras com esse título a descrição dos rios ou montanhas de tal ou qual Estado - ou seja, qualquer fenômeno ligado ao Estado (o ser político por excelência) era tido como assunto de geografia política. Ratzel mostrou que o estudo da geografia política só vai se preocupar com o meio ambiente - as características "naturais" do território, por exemplo (localização, formato, proximidade do mar, etc.) - desde que isso tenha relações com a vida política. Ele procurou estabelecer uma série de temas pertinentes à geografia política, que continuam a ser atuais (embora outros tenham surgido posteriormente): o que é o Estado e quais as suas relações com o território, soberania e território, o que é política territorial (uma expressão criada por ele), a questão das fronteiras, o que significa uma grande potência mundial, etc. 

Em síntese, esse geógrafo alemão não foi o primeiro autor a empregar esse rótulo, geografia política, nem mesmo o primeiro a escrever sobre o assunto - a questão do espaço geográfico na política. Essa análise a respeito da dimensão geográfica ou espacial da política é bastante antiga. Podemos encontrá-la em Aristóteles, em Maquiavel, em Montesquieu e em inúmeros outros filósolos da antiguidade, da Idade Média ou da época moderna. Mas normalmente essa preocupação com a dimensão espacial da política -- tal como, por exemplo, a respeito do tamanho e da localização do território de uma cidade-Estado, em Aristóteles; ou sobre a localização e a defesa da fortaleza do príncipe, em Maquiavel; ou a ênfase na importância da geografia (física e principalmente humana) para a compreensão do "espírito das Leis" de cada Estado, em Montesquieu -- era algo que surgia en passant, como um aspecto meio secundário da realidade, pois o essencial era entender a natureza do Estado ou das Leis, os tipos de governo ou as maneiras de alcançar e exercer eficazmente o poder. Com Ratzel inicia-se um estudo sistemático da dimensão geográfica da política, no qual a espacialidade ou a territorialidade do Estado era o principal objeto de preocupações. E com Ratzel a própria expressão "geografia política", que era comumente empregada nos estudos enciclopédicos dos séculos XVII, XVIII e mesmo XIX (as informações sobre tal ou qual Estado: sua população, contornos territoriais, rios, montanhas, climas, cidades principais, etc.), ganha um novo significado. Ela passa a ser entendida como o estudo geográfico ou espacial da política e não mais como um estudo genérico (em "todas" as suas características) dos Estados ou países. 

A palavra geopolítica, por sua vez, foi criada no início do século XX, mais precisamente em 1905, num artigo denominado "As grandes potências", escrito pelo jurista sueco Rudolf KJELLÉN. (Mas atenção: a palavra geopolítica é que foi criada por Kjellén, pois não há dúvida que essa temática é bem mais antiga, ou seja, as grandes preocupações geopolíticas não surgiram no início do século XX (preocupações sobre o que é e quem é uma potência mundial, como se dá a disputa mundial pelo poder entre os Estados, que estratégias seriam adequadas para tal ou qual Estado tornar-se a potência regional nesta ou naquela parte do globo, etc.). Isto é, já existia anteriormente juízos ou análises a respeito do poderio de cada Estado, das grandes potências mundiais ou regionais, com a importância ou o uso do espaço geográfico na guerra ou no exercício do poder estatal. 

Normalmente se afirma -- em quase todas as obras sobre "história da geopolítica" -- que os geopolíticos clássicos, ou os "grandes nomes da geopolítica", foram H.J. MacKinder, A.T. Mahan, R. Kjellén e K. Haushofer. Desses quatro nomes, dois deles (o geógrafo inglês Mackinder e o almirante norte-americano Mahan) tiveram as suas principais obras publicadas antes da criação dessa palavra geopolítica por Kjellén e, dessa forma, nunca fizeram uso dela. O outro autor, o general alemão Karl Haushofer, foi na realidade quem popularizou a geopolítica, devido às circunstâncias (ligações, embora problemáticas, com o nazismo e possível contribuição indireta para a obra Mein Kampf, de Hitler), tornando-a tristemente famosa nos anos 1930 e 40, em especial através da sua Revista de Geopolítica [Zeitschrift für Geopolitik], editada em Munique de 1924 a 44 e com uma tiragem mensal que começou com 3 mil e chegou a atingir a marca dos 30 mil exemplares, algo bastante expressivo para a época. 

A geopolítica, enfim, conheceu um período de grande expansão no pré-guerra, na primeira metade do século XX, tendo se eclipsado -- ou melhor, ficado no ostracismo -- depois de 1945. Ela sempre se preocupou com a chamada escala macro ou continental/planetária: a questão da disputa do poder mundial, que Estado (e por quê) é uma grande potência, qual a melhor estratégia espacial para se atingir esse status, etc. Existiram "escolas (nacionais) de geopolítica", em especial dos anos 1920 até os anos 1970, em algumas partes do mundo, inclusive no Brasil. Não escola no sentido físico (prédio e salas de aula), mas sim no sentido de corrente de pensamento, de autores -- mesmo que um tenha vivido distante do outro, no espaço ou às vezes até no tempo -- com uma certa identificação: no caso da geopolítica brasileira, ela consistiu principalmente no desenvolvimento de um projeto ("Brasil, grande potência") que se expressa como uma estratégia (geo)política e militar com uma clara dimensão espacial. A natureza pragmática, utilitarista (e para o Estado, único agente visto como legítimo) ou de "saber aplicável" sempre foi uma tônica marcante na geopolítica. Ela nunca se preocupou em firmar-se como um (mero?) "conhecimento" da realidade e sim como um "instrumento de ação", um guia para a atuação de tal ou qual Estado. 

A partir de meados dos anos 1970 a geopolítica sai do ostracismo. Ela volta a ser novamente estudada (a bem a verdade, ela nunca deixou de ser, mas de 1945 até por volta de 1975 esteve confinada em pequenos círculos, em especial militares). Só que agora, ao invés de ser vista como "uma ciência" (como pretendia Kjellén) ou como "uma técnica/arte a serviço do Estado" (como advogavam inúmeros geopolíticos, inclusive Haushofer), ela é cada vez mais entendida como "um campo de estudos", uma área interdisciplinar enfim (tal como, por exemplo, a questão ambiental). Em várias parte do globo criaram-se -- ou estão sendo criados -- institutos de estudos geopolíticos e/ou estratégicos, que via de regra congregam inúmeros especialistas: cientistas políticos, geógrafos, historiadores, militares ou teóricos estrategistas, sociólogos e, como não podia deixar de ser (na medida em que a "guerra" tecnológica-comercial hoje é mais importante que a militar) até mesmo economistas. 

Enfim, a palavra geopolítica não é uma simples contração de geografia política, como pensam alguns, mas sim algo que diz respeito às disputas de poder no espaço mundial e que, como a noção de PODER já o diz (poder implica em dominação, via Estado ou não, em relações de assimetria enfim, que podem ser culturais, sexuais, econômicas, repressivas e/ou militares, etc.), não é exclusivo da geografia. (Embora também seja algo por ela estudado). A geografia política, dessa forma, também se ocupa da geopolítica, embora seja uma ciência (ou melhor, uma modalidade da ciência geográfica) que estuda vários outros temas ou problemas. Exemplificando, podemos lembrar que a geografia também leva em conta a questão ambiental, embora esta não seja uma temática exclusivamente geográfica (outras ciências -- tais como a biologia, a geologia, a antropologia, a história, etc. -- também abordam essa questão). Mas a geografia -- da mesma forma que as outras ciências mencionadas -- não se identifica exclusivamente com essa questão, pois ela também procura explicar outras temáticas que não são rigorosamente ambientais tais como, por exemplo, a história do pensamento geográfico, a geografia eleitoral, os métodos cartográficos, etc.

Esquematizando, podemos dizer que existiram ou existem várias interpretações diferentes sobre o que é geopolítica e as suas relações com a geografia política. Vamos resumir essas interpretações, que variaram muito no espaço e no tempo, em quatro visões:

1. "A geopolítica seria dinâmica (como um filme) e a geografia política estática (como uma fotografia)". Esta foi a interpretação de inúmeros geopolíticos anteriores à Segunda Guerra Mundial, dentre os quais, podemos mencionar Kjellén, Haushofer e vários outros colaboradores da Revista de Geopolítica, além do general Golbery do Couto e Silva e inúmeros outros militares no Brasil. Segundo eles, a geopolítica seria uma "nova ciência" (ou técnica, ou arte) que se ocuparia da política ao nível geográfico, mas com uma abordagem diferente da geografia: ela seria "mais dinâmica" e voltada principalmente para a ação. Eles viam a geografia como uma disciplina tradicional e descritiva e diziam que nela apenas colhiam algumas informações (sobre relevo, distâncias, latitude e longitude, características territoriais ou marítimas, populações e economias, etc.), mas que fundamentalmente estavam construindo um outro saber, que na realidade seria mais do que uma ciência ou um mero saber, seria um instrumento imprescindível para a estratégia, a atuação político/espacial do Estado. Como se percebe, foi uma visão adequada ao seu momento histórico -- não podemos esquecer que o mundo na primeira metade do século XX, antes da Grande Guerra, vivia uma ordem multipolar conflituosa, com uma situação de guerra latente entre as grandes potências mundiais -- e à legitimação da prática de quem fazia geopolítica naquele momento. Ela também foi coeva e tributária de todo um clima intelectual europeu -- especialmente alemão -- da época, que fustigava o conhecimento científico ( a "ciência real", que era contraposta a uma "ciência ideal" ou "novo saber", que deveria contribuir para um "mundo melhor") pela sua pretensa "desconsideração pela vida concreta, pelas emoções, pelos sentimentos". 

2. "A geopolítica seria ideológica (um instrumento do nazi-fascismo ou dos Estados totalitários) e a geografia política seria uma ciência". Esta foi a interpretação de alguns poucos geógrafos nos anos 1930 e 40 (por exemplo: A. Hettner e Leo Waibel) e da quase totalidade deles (e também de inúmeros outros cientistas sociais) no pós-guerra. Um nome bastante representativo desta visão foi Pierre George, talvez o geógrafo francês mais conhecido dos anos 50 aos 70, que afirmava que a geopolítica seria uma "pseudo-ciência", uma caricatura da geografia política. Esta visão foi praticamente uma reação àquela anterior, que predominou anteriormente, no período pré-Segunda Guerra Mundial. Como toda forte reação, ela caminhou para o lado extremo do pêndulo, desclassificando completamente a geopolítica (da qual "nada se aproveita", nos dizeres de inúmeros autores dos anos 50 e 60) e até mesmo se recusando a explicá-la de forma mais rigorosa. 

3. "A geopolítica seria a verdadeira (ou fundamental) geografia". Esta foi a interpretação que Yves Lacoste inaugurou com o seu famoso livro-panfleto A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, de 1976, e que serviu como ideário para a revista Hérodote - revue de géographie et de géopolitique. Nessa visão, a geografia de verdade (a "essencial" ou fundamental) não teria surgido no século XIX com Humboldt e Ritter, mas sim na antiguidade, junto com o advento dos primeiro mapas. O que teria surgido no século XIX seria apenas a "geografia dos professores", a geografia acadêmica e que basicamente estaria preocupada em esconder ou encobrir, como uma "cortina de fumaça", a importância estratégica da verdadeira geografia, da geopolítica enfim. A geopolítica -- ou geografia dos Estados maiores, ou geografia fundamental -- existiria desde a antiguidade na estratégia espacial das cidades-estados, de Alexandre o Grande, por exemplo, de Heródoto com os seus escritos (obra e autor que, nessa leitura enviesada, teria sido um "representante do imperialismo ateniense"). Esta interpretação teve um certo fôlego -- ou melhor, foi reproduzida, normalmente por estudantes e de forma acrítica -- no final dos anos 1970 e nos anos 80, mas acabou ficando confinada a um pequeno grupo de geógrafos franceses que, inclusive, em grande parte se afastaram do restante da comunidade geográfica (ou mesmo científica) daquele país. Existe uma visível falta de evidências nessa tese -- de comprovações, e mesmo de possibilidade de ser testada empiricamente (inclusive via documentos históricos) -- e, na realidade, ela surgiu mais como uma forma de revalorizar a geografia, tão questionada pelos revoltosos do maio de 1968, tentando mostrar a sua importância estratégica e militar. 

4. "A geopolítica (hoje) seria uma área ou campo de estudos interdisciplinar". Esta interpretação começa a predominar a partir do final dos anos 1980, sendo quase um consenso nos dias atuais. Não se trata tanto do que foi a geopolítica e sim do que ela representa atualmente. E mesmo se analisarmos quem fez geopolítica, os "grandes nomes" que teriam contribuído para desenvolver esse saber, vamos concluir que eles nunca provieram de uma única área do conhecimento: houve juristas (por exemplo, Kjellén), geógrafos (Mackinder), militares (Mahan, Haushofer) e vários outros oriundos da história, da ciência política, da economia, da engenharia, etc. Não tem nenhum sentido advogar o monopólio desse tipo de estudo -- seria o mesmo que pretender deter a exclusividade das pesquisas ambientais! --, já que com isso estaríamos desconhecendo a realidade, o que já se fez e o que vem sendo feito na prática. Existem trabalhos recentes sobre geopolítica, alguns ótimos, oriundos de geógrafos, de cientistas políticos (Luttuak...), de historiadores (H. Kissinger, P. Kennedy...), de sociólogos (Huntington...)de militares, etc. E ninguém pode imaginar seriamente que num instituto ou centro de estudos estratégicos e/ou geopolíticos -- onde se pesquise os rumos do Brasil (ou de qualquer outro Estado-nação, ou mesmo de um partido político) no século XXI, as possibilidades de confrontos ou de crises político-diplomáticas ou econômicas, as estratégias para se tornar hegemônico no (sub)continente, para ocupar racionalmente a Amazônia, etc. -- devam existir apenas geógrafos, ou apenas militares, ou apenas economistas ou juristas. Mais uma vez podemos fazer aqui uma ligação com o nosso tempo, com o clima intelectual do final do século XX e inícios do XXI. A palavra de ordem hoje é interdisciplinaridade (ou até transdisciplinaridade), pois o real nunca é convenientemente explicado por apenas uma abordagem ou uma ciência específica. O conhecimento da realidade, enfim, e mesmo a atuação nela com vistas a um mundo mais justo, é algo muito mais importante do que as disputas corporativistas. 


Texto escrito por
José Wiliam Vasentini
Fonte:  http://www.geocritica.com.br/geopolitica.htm
 


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