UNIGUAÇU – UNIÃO DE ENSINO SUPERIOR DO IGUAÇU LTDA
FAESI – FACULDADE DE ENSINO SUPERIO DE SÃO MIGUEL DO IGUAÇU
ISE – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CURSO DE GEOGRAFIA QUARTO PERÍODO
Geografia Agrária
CURSO DE GEOGRAFIA QUARTO PERÍODO
Geografia Agrária
ANDERSON JOSÉ BENDER
RESUMO DOS ARTIGOS SOBRE O MST
Trabalho de graduação apresentado a disciplina de
Geografia Agrária da Faculdade de Ensino Superior de
São Miguel do Iguaçu, sob orientação do Professor:
Ma. Stefan Huppe
SÃO MIGUEL DO IGUAÇU
2011
2011
SUMÁRIO
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
2. SEM-TERRA: OS SENTIDOS E AS TRANSFORMAÇÕES DE UMA CATEGORIA DE AÇÃO COLETIVA NO BRASIL
2.1 História e Surgimento dos movimentos e do MST
1. INTRODUÇÃO
2. SEM-TERRA: OS SENTIDOS E AS TRANSFORMAÇÕES DE UMA CATEGORIA DE AÇÃO COLETIVA NO BRASIL
2.1 História e Surgimento dos movimentos e do MST
2.2 Os movimentos Sem terras nas vésperas do golpe
2.3 Os sem terras e a mudança de governo, ações coletivas em perspectiva interdependente
2.4 O MST na década de 1990/2000: Cruzando o país
3. AÇÃO POLÍTICA DO MST
3.1 O MST e o Governo
3.2 O MST e a Imprensa
3.3 O MST e o Congresso
3.4 O MST e a Igreja
3.5 O MST e a opinião política
4. MST ESCOLA DA VIDA EM MOVIMENTO
4.1 Sujeitos em movimento, um discurso de ação
4.2 Uma forma de vida
4.3 A Amizade no MST
4.4 Formação e sofrimento
5. CONCLUSÃO
2.4 O MST na década de 1990/2000: Cruzando o país
3. AÇÃO POLÍTICA DO MST
3.1 O MST e o Governo
3.2 O MST e a Imprensa
3.3 O MST e o Congresso
3.4 O MST e a Igreja
3.5 O MST e a opinião política
4. MST ESCOLA DA VIDA EM MOVIMENTO
4.1 Sujeitos em movimento, um discurso de ação
4.2 Uma forma de vida
4.3 A Amizade no MST
4.4 Formação e sofrimento
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra constitui um senso comum que se espalha por meios de comunicação. E desde os primórdios do século XIX vem se apresentando conflitos pelo direito a um pedaço de terra para viver. O tempo passa e as filosofias dos movimentos vão evoluindo e ao encontrarem apoio nas lideranças ganham forças para buscar novos objetivos e conquistas num espaço político importante no quadro nacional e assim, vão se formando grupos cada vez mais fortes como é o caso do MST.
Mesmo o governo nem sempre sendo favorável ao movimento, sua persistência cria uma política social que consegue alguns resultados positivos, e a sua principal arma, até agora, tem sido a pressão exercida por meio das ocupações. Sua política marxista chama a atenção e ganha apoio de outras entidades como a igreja, parte da mídia e do senado, principalmente a parte da oposição causando certa admiração do governo. O MST possui uma trajetória formativa e tem o poder de juntar e de formar um discurso que levam o povo sofrido a juntar-se ao grupo e assim formar uma grande família que acabam buscando seus direitos, lutando pela vida e pela sobrevivência.
PALAVRAS – CHAVE: Trabalhadores; Movimentos; MST; Rurais; Marxista; Grupo; União.
Mesmo o governo nem sempre sendo favorável ao movimento, sua persistência cria uma política social que consegue alguns resultados positivos, e a sua principal arma, até agora, tem sido a pressão exercida por meio das ocupações. Sua política marxista chama a atenção e ganha apoio de outras entidades como a igreja, parte da mídia e do senado, principalmente a parte da oposição causando certa admiração do governo. O MST possui uma trajetória formativa e tem o poder de juntar e de formar um discurso que levam o povo sofrido a juntar-se ao grupo e assim formar uma grande família que acabam buscando seus direitos, lutando pela vida e pela sobrevivência.
PALAVRAS – CHAVE: Trabalhadores; Movimentos; MST; Rurais; Marxista; Grupo; União.
1. INTRODUÇÃO
Desde o século passado vemos a nossa nação enfrentado problemas relacionados a terra. E datam do final do século XIX início do século XX o início da união de grupos que visam o direito a um pedaço de chão para cultivarem o seu sustento. Tal fato ganha grande relevância a partir da década de 1950 quando às ações coletivas começam a formar grupos mais fortes para aproveitar e conquistar terras muitas vezes improdutivas e conseqüentemente abandonadas.
Como tudo encontra barreiras para seguir em frente os grupos não obtiveram muito êxito e barraram ou simplesmente “fracassaram” na época da ditadura militar. Mas como a persistência é mais forte ao final do governo militar eis que surge um grupo com uma filosofia marxista que promete uma revolução no direito pela terra dentro do contexto da reforma agrária, um grupo que atende pelo nome de MST.
Neste resumo procuraremos repassar as principais etapas desde o surgimento ate a atualidade, passando pela história, política e filosofia desse grupo social que vem ocupando um grande destaque na sociedade brasileira. Para tanto o resumo encontra-se dividido em três partes retiradas de três artigos. Na primeira será abordado o tema histórico dos movimentos sociais, os sentidos e as transformações de uma categoria de ação coletiva no Brasil, subdivido na história e surgimento, passando pelos movimentos que se organizaram as vésperas do golpe militar, e que resistiram a mudança de governo com suas ações coletivas formando uma perspectiva interdependente que seguem atravessando o país se destacando nas décadas de 1990 e 2000. Na segunda parte será abordada Ação política do MST com políticas subdivididas no Governo, imprensa, Congresso, Igreja e na opinião política. E por fim, a terceira parte que trata sobre, MST Escola da vida em movimento que aborda a experiência vivida dentro de acampamento. O assunto ainda subdivide a análise sobre os sujeitos em movimento, um discurso de ação que trata da questão sobre as utopias e o desdobrar de lutas cada vez mais profundas contra os arranjos sociais, e ainda, baseia-se em uma forma de vida e amizade no MST onde se aprofunda a união do grupo e o caráter para superar as dificuldades na Formação e sofrimento.
Como tudo encontra barreiras para seguir em frente os grupos não obtiveram muito êxito e barraram ou simplesmente “fracassaram” na época da ditadura militar. Mas como a persistência é mais forte ao final do governo militar eis que surge um grupo com uma filosofia marxista que promete uma revolução no direito pela terra dentro do contexto da reforma agrária, um grupo que atende pelo nome de MST.
Neste resumo procuraremos repassar as principais etapas desde o surgimento ate a atualidade, passando pela história, política e filosofia desse grupo social que vem ocupando um grande destaque na sociedade brasileira. Para tanto o resumo encontra-se dividido em três partes retiradas de três artigos. Na primeira será abordado o tema histórico dos movimentos sociais, os sentidos e as transformações de uma categoria de ação coletiva no Brasil, subdivido na história e surgimento, passando pelos movimentos que se organizaram as vésperas do golpe militar, e que resistiram a mudança de governo com suas ações coletivas formando uma perspectiva interdependente que seguem atravessando o país se destacando nas décadas de 1990 e 2000. Na segunda parte será abordada Ação política do MST com políticas subdivididas no Governo, imprensa, Congresso, Igreja e na opinião política. E por fim, a terceira parte que trata sobre, MST Escola da vida em movimento que aborda a experiência vivida dentro de acampamento. O assunto ainda subdivide a análise sobre os sujeitos em movimento, um discurso de ação que trata da questão sobre as utopias e o desdobrar de lutas cada vez mais profundas contra os arranjos sociais, e ainda, baseia-se em uma forma de vida e amizade no MST onde se aprofunda a união do grupo e o caráter para superar as dificuldades na Formação e sofrimento.
2. SEM-TERRA: OS SENTIDOS E AS TRANSFORMAÇÕES DE UMA CATEGORIA DE AÇÃO COLETIVA NO BRASIL
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST constitui um senso comum que se espalha por meios de comunicação e que não reflete exatamente o auge de grupos organizados no Brasil que reivindicam a representação dessa categoria social. No entanto esse grupo busca direitos de sobrevivência na humildade e na perseverança de um povo sofrido e batalhador. Apesar disso, não se pode desconhecer que foi este movimento que consagrou a categoria social “sem-terra” como uma forma social de reconhecimento público ao ocupar não apenas fazendas consideradas improdutivas, mas também prédios e espaços públicos em quase todo o país. A importância e o volume de suas ações contribuem para que o interesse sociológico acerca das suas formas de mobilização e de ação coletiva seja também vultoso.
2.1 História e Surgimento dos movimentos e do MST
O conflito pelas terras é um problema que vem se destacando a mais de um século no Brasil. A Lei de Terras de 1850, ao estabelecer a compra e venda como forma padrão de aquisição da propriedade fundiária se limitou fortemente à usucapião que foi a estrutura agrária desigual herdada dos tempos coloniais. É desse marco legislativo que se valem os historiadores para dividir a história dos conflitos agrários no Brasil independente, a partir de 1850, em duas fases distintas: A primeira fase, que iria de 1850 até 1940, é classificada como "messiânica", pois estas lutas estavam associadas à presença de líderes religiosos de origem popular, que pregavam ideologias de cunho milenarista, associados à mitologia relativa ao retorno de Dom Sebastião e ligados ao catolicismo popular. A segunda fase da luta pela terra no Brasil é definida como "lutas radicais localizadas" e que se desenvolvem de 1940 até 1955. Nesta fase ocorreram diversos conflitos e revoltas populares relacionadas as terras, em diversos lugares do Brasil, em lutas não mais de cunho messiânico, mas agora com demandas sociais e políticas claramente definidas como tais.
O tempo foi passando e de certa forma evoluindo, não se tinha mais grupos que lutavam por terra, mas sim, movimentos organizados que passaram a ser um pouco mais pacíficos e de certa forma mais organizados. No entanto o início dos anos sessenta mostra-se ainda como um período crucial para pensarmos questões relativas ao binômio, terra e política no Brasil. Ligas Camponesas, sindicatos de trabalhadores rurais e o Movimento dos Agricultores foram sem dúvida as principais manifestações públicas daquela onda, porém, falta de maior investimento sobre a história desses movimentos conduz uma dicotomia interpretativa para se refletir como os "sem-terra" de outrora se ligariam aos sem-terra de hoje, emblemados pelas bandeiras do MST.
2.2 Os movimentos Sem terras nas vésperas do golpe
No início da década de 1960, foi fundado pelo prefeito da cidade de Encruzilhada do Sul RS um grupo de sem terras mais organizados, com o nome de MASTER (Movimento dos Agricultores Sem Terra). “Isso se deu no momento em que um fazendeiro de um grupo político opositor tentava expulsar da terra agricultores, alegando ser ele o verdadeiro dono da terra. Não se tem notícia de nenhum tipo de ação coletiva que tenha sido realizada para garantir a posse daquelas terras, sabe-se apenas que houve a formação do movimento”.
Não se há notícia de nenhuma outra mobilização ou ação pública desse movimento até 1962, quando começaram as invasões, mais precisamente no dia 11 de janeiro do mesmo ano, quando centenas de pessoas montaram um acampamento com barracos de madeira e barracas de lona de caminhão às margens da rodovia que liga os municípios de Passo Fundo e Ronda Alta. Na época a Fazenda Sarandi, foi o foco da invasão, pois era uma propriedade de um grupo uruguaio que utilizava apenas uma pequena parte dela para exploração de madeira.
2.3 Os sem terras e a mudança de governo, ações coletivas em perspectiva interdependente.
A categoria "sem-terra" e as políticas públicas voltadas especificamente para ela se encerraram com o fim do governo de Leonel Brizola, ou seja, quando se desestrutura a figuração formada nos primeiros anos da década de 1960.
Com a mudança de governo, os acampamentos liderados pelo MASTER foram reprimidos e, após o golpe militar de 1964, seus principais organizadores foram presos ou fugiram do país. Apesar disso, permaneceram naquela região centenas de pessoas cadastradas como agricultores sem-terra. No entanto a categoria praticamente desaparece da vida social e das políticas de Estado, que irão privilegiar daí por diante, o tema da "colonização”. “Mesmo que tenham ocorrido acampamentos durante o governo seguinte, seus resultados foram nulos em termos de novos assentamentos”.
Após anos de espera e lutas perdidas sem muito sucesso um novo grupo tenta restaurar a força dos movimentos. No final da ditadura militar no período de transição surgiu oficialmente em Cascavel no Estado do Paraná o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para poder sair do papel sua formação obteve grande numero de reuniões acompanhadas de vários movimentos populares de luta pela terra. E em janeiro de 1984 o movimento se torna oficial.
Atualmente, o movimento está presente em 23 dos 26 Estados da federação. Faz-se necessário lembrar, também, que o MST não é o único movimento de luta pela reforma agrária. Existem atualmente dezenas de outros movimentos, por exemplo: o MAST (Movimento dos Agricultores Sem Terra), ligado à Social Democracia Sindical, o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), ligado a segmentos da esquerda, e o MUST (Movimento Unido dos Sem Terra), ligado à Força Sindical.
2.4 O MST na década de 1990/2000: Cruzando o país
O MST cresceu muito nos últimos anos e como já foi dito está presente em 23 dos 26 Estados da federação. “Porém ele é responsável por apenas um terço das ocupações de terras realizadas no Brasil o restante está dividido nos outros movimentos citados anteriormente, mesmo assim seu poder de força é muito grande e é o que mais tem destaque na mídia e no contexto geral da nação brasileira”.
“Seu maior foco de ocupação de terras está estabelecido no estado do Pernambuco onde o MST se estabeleceu na década de 1990. O caso pernambucano revelou também uma proliferação de outros movimentos de sem-terra. Por volta de 2003, haviam sido contabilizados pelo INCRA regional 14 movimentos diferentes que organizavam ocupações e reivindicavam desapropriações de terra”.
Alguns desses movimentos, como o Movimento dos Trabalhadores Brasileiros Sem-Terra (MTBST) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais e Urbanos do Brasil (MTRUB), contribuíram para que fossem trazidos ao debate novos elementos sobre o sentido das mobilizações do MST.
3. AÇÃO POLÍTICA DO MST
O MST conquistou um espaço político importante no quadro público atual, contrariando toda uma suposta tradição do povo brasileiro. Com humildade se infiltrou de forma inteligente no coração da política nacional conquistando respeito e admiração não só de grandes autoridades nacionais como também internacionais. Isso tudo derivado da determinação de um grupo coletivo que sofre preconceitos e represarias, mas que nem por isso desiste, e assim consegue se organizar, ter força política e desafiar os poderes constituídos.
3.1 O MST e o Governo
“O governo brasileiro considera o MST um grupo que atua de forma política e que conquistou um espaço político importante no quadro público atual”. Mas quando prestamos bem atenção na leitura cotidiana dos noticiários podemos perceber que na verdade o MST é o maior adversário do governo.
“Para se ter uma idéia da força política conquistada pelo MST durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, basta verificar a evolução da atenção que o governo federal tem dispensado ao movimento. Em 1994, ainda no governo de Itamar Franco, a Folha de S.Paulo informava que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) não sabia quantas invasões tinham sido efetivadas nos anos anteriores (Folha de S.Paulo, 05/04/94). Cinco anos mais tarde, as informações sobre o MST passaram a ser sistematicamente compiladas ao Gabinete de Segurança Institucional. Faz-se necessário ressaltar que dois acontecimentos importantes obrigaram o governo a dedicar maior atenção ao MST: o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996, e a Marcha a Brasília, realizada de fevereiro a abril de 1997.
“A postura do governo diante do MST mudou após o massacre de Eldorado dos Carajás. Percebeu-se a necessidade de coordenar melhor as ações para poder enfrentar o movimento e adotar uma linha mais dura com objetivo de impedir às invasões de sedes do INCRA e a ocupação de fazendas”.
“Durante a Marcha para Brasília foram convocados 900 homens do exército distribuídos em 12 agências regionais de inteligência, e ainda passaram a produzir um relatório durante os dois meses de duração da marcha do MST”.
Mesmo com toda essa organização, o governo subestimou a capacidade do MST de realizar uma marcha de dois meses até Brasília. "Até a chegada da marcha, o Planalto achava que a questão da terra tinha sido artificialmente inflada pelo massacre de Eldorado dos Carajás e pela novela O Rei do Gado. ‘Mesmo quando as pesquisas de opinião informavam que 80% da população queriam a reforma agrária, o governo sentou-se à mesa para conversar’. (Veja, 23/04/97)”.
“Os encontros entre o Presidente da República e representantes do MST também são importantes, pois é a partir deles que tanto o governo quanto o movimento se reconhecem mutuamente como interlocutores políticos, pois, o MST precisa do governo, da mesma forma que o governo não pode ignorar o MST”.
“O governo até pode desapropriar terras, conceder indenizações, garantir crédito aos assentados, estabelecer uma política agrária e executá-la, porém, sem a presença do MST, o número de mortes no campo seria, provavelmente, muito maior. A morte de um militante do MST é muito mais constrangedora para o governo do que o assassinato de um trabalhador rural não pertencente ao movimento”.
O MST consegue alguns resultados positivos, e a sua principal arma, até agora, tem sido a pressão exercida por meio das ocupações, que acaba se tornando a razão principal do seu crescimento. “Isso pode ser explicado melhor quando observamos a sua habilidade em construir ciclos e mantê-los sempre ligados à organização do movimento, de modo que eles se reforcem mutuamente”.
3.2 O MST e a Imprensa
“Não é preciso ser um observador muito atento para constatar que, quando o assunto é sem-terra, há consenso dos meios de comunicação a favor do governo. Acreditamos ser possível limitar a investigação à imprensa escrita a partir da análise dos editoriais. Pode-se ter uma boa idéia do posicionamento de cada jornal diante das questões, a pauta diária do noticiário dos órgãos de rádio e televisão pode ser sempre influenciada pelas matérias veiculadas na imprensa. A presença do MST nos editoriais dos jornais mais importantes do país já constitui uma prova bastante conclusiva da sua relevância como ator político na cena nacional”, como pode observar na publicação do Jornal o Estado de São Paulo (03/11/95): (...) ‘O Movimento dos Sem-Terra é hoje um ator de primeira grandeza na cena política quer pelo assentamento legal dos invasores’
Numa tentativa de quantificar a presença do MST Alguns editoriais tratam da reforma agrária ou da situação de agricultores sem-terra, mas não se referem diretamente ao MST. “Baseado nisso a CUT promove ações de solidariedade ao MST e realiza manifestações conjuntas com o movimento dos sem-terra. O fato mais significativo realizado pela CUT foi durante o mês de junho de 2000 quando a mesma promoveu 13 invasões em fazendas do Mato Grosso do Sul”.
“A CONTAG, por sua vez, também resolveu adotar uma linha de ação mais agressiva, e vem promovendo a ocupação de propriedades rurais, a exemplo do MST. O Jornal do Brasil (24/04/99) cita o ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso:” ‘Desde que a CONTAG se filiou à CUT, ela entrou na estratégia da violência, no sentido de praticar a invasão de terras’.
“O que o general, no entanto esconde, e o jornal não menciona, contudo, é que o próprio governo incentiva a rivalidade entre as organizações que lutam pela reforma agrária, com o objetivo de diminuir a força do MST”.
Porém o MST se mantém firme na “briga” e sempre organiza manifestações de massa, sejam elas marchas, acampamentos ou ocupações que acabam sendo a melhor maneira de evitar a repressão aos manifestantes. “É claro que cada passo sempre leva em conta o apelo jornalístico, e os estrategistas do MST sabem muito bem que montar um acampamento provisório em frente ao palácio do governo, ou diante de órgãos do governo ou agências bancárias, garante presença no noticiário da televisão e nos jornais. Já a ocupação de prédios públicos ou a concentração de militantes em frente à fazenda da família do Presidente da República, por sua vez, garante um lugar de destaque na imprensa, enquanto durar a mobilização”.
Essas estratégias realizadas pelo MST incomodam o governo, pois há uma dificuldade em combater a habilidade que o MST demonstra em aparecer na mídia. Para melhor efeito, seria muito mais confortável, para o governo, que o MST adotasse uma forma institucionalizada de oposição política, porém, mesmo que alguns integrantes do movimento acabam partindo para partidos políticos essa idéia é praticamente retirada da ideologia marxista do MST.
3.3 O MST e o Congresso
“Uma prova incontestável da força política do movimento dos sem-terra é que ele não precisa, ou não quer passar pela intermediação de um deputado para fazer com que suas reivindicações cheguem ao Executivo. De fato, os dirigentes do MST são recebidos diretamente pelo Presidente da República ou por seus ministros”.
A situação mais comum é aquela em que alguns parlamentares, geralmente de oposição, oferecem-se para solucionar uma situação de impasse, entre o governo e o MST. “Dessa forma, quando nenhum dos dois lados está disposto a fazer concessões, é freqüente ver parlamentares interessados num acordo se desdobrarem para marcar um encontro entre as duas partes. No entanto não é uma tarefa fácil, contudo, determinar com precisão quem são os deputados e senadores que apóiam o MST. O partido que oferece o apoio mais constante ao MST é o PT, já o PSDB e o bloco PMDB-PST-PTN posição em relação ao MST tem situação indefinida”, ou seja, palpitam apenas quando a situação esta praticamente resolvida.
“No início da legislatura de 1995, o Instituto de Estudos Sócio Econômicos (INESC) aplicou um questionário a todos os parlamentares sobre os temas mais polêmicos da agenda política nacional. Entre as perguntas elaboradas foi incluída uma questão sobre os conflitos de terra e a reforma agrária: O que é necessário para inibir os conflitos agrários? Dos 165 parlamentares que representam apenas um terço do total quase a metade dos que responderam apontou a reforma agrária como a melhor solução”. Mas vale lembrar que o questionário não apontou os nomes dos parlamentares que o responderam, assim na hora de honrar as respostas muitos se calam ou seguem a ideologia do PSDB, PMDB, PST e PTN, se mantém indefinidos e só palpitam quando tudo está praticamente resolvido. Mas de certa forma também sabemos que “O que vale é a intenção”.
“A despeito do potencial eleitoral demonstrado por alguns dos seus integrantes, o MST não acredita que a conquista de cadeiras no Congresso seja o melhor caminho para a luta pela reforma agrária. Podemos afirmar, portanto, que o MST não despreza nem desmerece o trabalho parlamentar, embora ele não seja visto como prioritário.
3.4 O MST e a Igreja
“A importância da Igreja como ator político, no Brasil, foi evidenciada durante o processo de redemocratização. Com efeito, no final dos anos 70 e começo dos 80. Na atualidade a Igreja é um interlocutor confiável entre o governo e os trabalhadores rurais. De acordo com José de Souza Martins (1986), a Igreja ‘tem um êxito muito grande na mobilização de populações camponesas, na criação de comunidades de base, etc.’ É justamente essa proximidade entre os padres e os trabalhadores rurais que explica a importância da Igreja na formação do MST.
“Segundo uma pesquisa feita pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais CERIS, quase a metade do clero brasileiro veio da Região Sul do país. Dois terços pertencem a famílias de classe baixa ou média-baixa. Enquanto 78% da população brasileira vivem nos centros urbanos, 64% do clero têm origem na zona rural. Três em cada quatro padres nasceram em cidades com menos de 20 mil habitantes”. O que leva a fácil conclusão o porque de a Igreja apoiar tanto os movimentos e também não se pode esquecer de ressaltar a parte cristã que prega que a terra é um direito de todo ser humano, já que nada é “nosso” e tudo vem do criador que é DEUS pai todo poderoso.
“Dois aspectos marcaram decisivamente a influência da Igreja sobre o MST. O caráter ecumênico da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a capilaridade dessa entidade nas camadas populares”.
“O apoio da Igreja à reforma agrária não se limita. O apoio logístico também é muito importante principalmente durante a Marcha a Brasília em 1997 quando a Igreja Católica permitiu a hospedagem em igrejas e casas paroquiais durante todo o trajeto, além de auxiliar na arrecadação de alimentos para os manifestantes. Estima-se que cerca de 15% dos recursos do MST sejam provenientes dessa rede de solidariedade internacional (O Estado de S.Paulo, 01/06/98)”.
“Feitas essas considerações é possível distinguir dois grupos distintos os eclesiásticos brasileiros: os progressistas e os conservadores. O Vaticano entende como justas as reivindicações do MST, apesar de não apoiar os seus métodos de ocupar propriedades particulares e agências bancárias para forçar o governo a liberar créditos. Daí os apelos do papa para que a reforma agrária seja feita de acordo com a lei e não se torne um ato de violência”. Todos nós sabemos que se o governo realmente quisesse não teria violência e o fato é simples como o Papa mesmo disse: ‘que se faça a reforma agrária de acordo com a lei’.
3.5 O MST e a opinião política
“No caso específico do MST, a opinião pública tem se revelado um elemento importante para as decisões do governo e é preciso considerar que, numa sociedade majoritariamente urbana como a sociedade brasileira contemporânea, as lutas do campo só conseguem se projetar nacionalmente se tiverem o respaldo e o reconhecimento da população das cidades. Com efeito, os moradores de áreas rurais representam apenas um quinto da população brasileira. Assim sendo os 80% restantes que moram em áreas urbanas são decisivos para o futuro de qualquer movimento agrário”.
O MST tem consciência que apenas com os votos de áreas rurais não é possível mudar a correlação de forças na Câmara dos Deputados ou no Senado. Por isso a importância de atos e manifestações nas cidades.
Do ponto de vista dos dirigentes do MST, trata-se de conscientizar, e não de atrapalhar. “De fato, raramente vêem-se militantes do MST bloqueando uma avenida ou impedindo funcionários públicos de entrar no seu local de trabalho. Na maioria das vezes os manifestantes estão ocupando a entrada ou o saguão principal do prédio para forçar uma audiência com as autoridades responsáveis”. O objetivo principal das manifestações nas cidades é fazer conhecer as suas reivindicações e conseguir o apoio das populações urbanas às causa da reforma agrária. “O apoio do MST às lutas urbanas é considerado uma forma de solidariedade entre trabalhadores”.
”Pesquisas de opinião pública, realizadas ao longo dos últimos anos mostram que o MST conta com o apoio da maioria da população brasileira. O apoio à reforma agrária varia entre 80% e 94%, enquanto aproximadamente dois terços da população considera o MST um movimento legítimo. Durante a marcha do MST a Brasília, em 1997, a popularidade do movimento esteve no seu auge, chegando a 77% de apoio”.
“Apesar de grande parte da população brasileira, ser favorável à reforma agrária, ela não está disposta a tomar iniciativas que a viabilizem, pois, indiretamente a imprensa interpreta e transmite que os movimentos não estão interessados apenas na reforma agrária, mas também na revolução e na agitação política”. Isso faz com que muitos pensam que a reforma agrária não seja considerada prioridade e mesmo havendo vários projetos de reforma agrária, nem todos que se dizem favoráveis a ela concordam necessariamente com a reforma agrária pretendida pelo MST, fazendo com que o movimento em algumas vezes passe por vilão.
“Resta ainda tratar da repercussão internacional do MST. O movimento foi objeto de diversas reportagens em grandes jornais estrangeiros, periódicos e emissoras de televisão, sobretudo depois do massacre de Eldorado dos Carajás, noticiado em 61 idiomas (IstoÉ, 24/04/97). A marcha dos sem-terra a Brasília teve como resultado aumentar ainda mais o interesse no assunto, como testemunha o ministro da Saúde, José Serra”: ‘A marcha a Brasília comandada pelo MST elevou ao máximo a simpatia internacional pelos pobres brasileiros’.
O MST tem consciência da importância desse apoio externo e da sua influência no tratamento dispensado ao movimento pelo governo. Como se pode verificar, o MST não ocupa apenas terras e prédios públicos, mas ocupa também reuniões de ministros, discursos do presidente, relatórios dos serviços de inteligência, editoriais de jornais, manchetes nos noticiários, pronunciamentos de parlamentares, conversas entre o presidente e o papa, pesquisas de opinião pública e até protestos nas visitas do presidente ao exterior.
“O governo só percebeu a força do movimento em 1997, a partir da Marcha a Brasília. Naquele ano o MST esteve no auge, os editoriais de jornais passaram a tratar periodicamente do MST e a reforma agrária contava com o apoio de 94% da população”.
4. MST ESCOLA DA VIDA EM MOVIMENTO
O MST possui uma trajetória formativa, detendo-nos na analisar as atitudes desse grupo que tem o poder de juntar e de formar um discurso-ação constituído na experiência em questão que leva o povo sofrido a juntar-se ao grupo e assim formar uma grande família que busca direitos e que luta pela vida e pela sobrevivência. Por onde passam seja mal vistos ou bem vistos os grupos que compõe o MST deixam marcas, não de lutas físicas, mas sim de lutas pela moralidade, pela união e principalmente pela sobrevivência.
4.1 Sujeitos em movimento, um discurso de ação
“A vivência dessas condições, associada a tais utopias, passou a se desdobrar em lutas cada vez mais profundas contra os arranjos societais e na organização de comunidades de projeto. Lutas que os têm levado a impugnar relações de poder e verdades a elas associadas que, historicamente, os classificava como sem-terra, sem lugar e sem futuro. Mas não sem antes experimentar o vazio de possibilidades de vida que a seqüência de atos de exclusão legou-lhes”.
“Com isso, contribuíram para que, no interior do Movimento, se pudesse associar ‘história e memória’, fazendo ‘o passado das lutas do povo como seu’ (Caldart, 2000, p. 236), isto é, de cada trabalhador e trabalhadora do MST e do Movimento em si. E fazendo da memória da morte uma obrigação de vida, a continuidade da tarefa do amigo que morreu na luta”.
“Um dos elementos mais fortes de identificação, para os trabalhadores e trabalhadoras sem-terra e para o Movimento, é a terra: terra para trabalhar, produzir, morar, viver, morrer. Princípio que tem coerência com a visão de história presente no Movimento, que é a de ‘enxergar cada ação ou situação particular em um movimento contínuo entre passado, presente e futuro’, compreender ações e situações em suas relações e como parte de uma totalidade maior”.
4.2 Uma forma de vida
“Os princípios do Movimento, a sua pedagogia, os valores que afirma, os saberes e as marcas que vêm produzindo como: ter uma direção coletiva, divisão de tarefas respeitando aptidões, disciplina, estudo, formação de quadros, luta de massas e vinculação permanente entre direção do Movimento e base; pedagogia que vê a própria experiência ‘de ser Movimento, construir o Movimento e construir-se como Movimento’, ao mesmo tempo, como sujeito e como princípio pedagógico do MST. E que elege como matrizes pedagógicas: a pedagogia da luta, a da ação coletiva, a pedagogia da terra, do trabalho e da produção, a da cultura e a pedagogia da história (Caldart, 2000, p. 204-237)”.
4.3 A Amizade no MST
“A forma de vida criada no âmbito da luta que constituiu o MST constituiu-se na própria expressão do companheirismo. Na experiência-limite que desafiou a construção de espaços de comunicação e ação dos trabalhadores e trabalhadoras sem-terra que os transformou em companheiros”.
“A relação, entre indivíduos, famílias e o coletivo criado no acampamento, permeada por sentimentos que, associados, deram vida a essa amizade cuja origem pode ser associada à diversidade de formas de exposição de cada corpo à violência da exclusão, violência que transforma as relações entre os sujeitos num misto de ‘necessitação’ e repulsa, enquanto a confiança não chega. Características dessa amizade ético-política despontam na sistematização das vivências que os intelectuais do Movimento apresentam, ajudando-nos a compreender a forma de vida companheira nascida com a constituição do MST”.
O MST virou uma grande família com anos e meses de acampamento, “as pessoas aprenderam que até o açúcar tem que dividir de manhã. Para ir prá uma caminhada, prá uma marcha, prá uma ocupação, o objetivo é que, o que é meu é de todo mundo. como toda família no MST também existe divergência interna, isso ninguém esconde nos assentamentos”.
O MST possui uma série de maneiras e reflexões internas que trazem a todos uma reflexão profunda sobre a real forma marxista do MST como:
a) complementaridade do diverso e solidariedade
“Um dos desafios apresentados ao MST, em sua história, foi conviver com a diversidade dos sujeitos que reuniu, aproveitando suas habilidades e capacidades individuais para configurar um coletivo com amplo espectro de ‘competências’ nos âmbitos da organização, mobilização, lazer, fazer técnico e educação. Isso acolheu e deu organicidade ao coletivo e atuou no sentido de afastar a competitividade e dar margem ao estabelecimento de nova lógica nas relações”.
b) da ação política ao acolhimento
“Na seqüência de atos que passaram a protagonizar os sem-terra fizeram dos acampamentos um lugar de espera, mas da espera-ação. Lugar onde as formas de relacionamento não foram previamente prescritas, ao mesmo tempo, uma necessidade de invenção. Foi também esta espera-ação-ético-política, que aliou sofrimento formação política e possibilitou o desabrochar de uma nova sociabilidade e de subjetividades, fenômenos que, ao serem vividos com a cumplicidade do companheiro, não perderam a intensidade”.
c) da fraternidade ao agonismo
“O acolhimento fraternal agregou, à relação de companheirismo, vontade de construir equilíbrio de forças, Agregou a vontade de pautar tal relação pelo jogo estratégico de "agir sobre o outro com o mínimo de domínio", que acompanha o agonismo provocador, que incita os sujeitos em relação a desencadearem crítica e criação. A fraternidade possibilitou a configuração de uma convivência companheira caracterizada por manter relações democráticas, cuidá-los como irmãos, compartilhar desejos e direitos, e também dialogar, fazer escolhas, tomar decisões.
d) historicidade e humanidade
“À medida que o MST avança como instituição, e o seu discurso-ação ou, como dizem os assentados, o seu ‘projeto’ vai se ‘completando’, as verdades do Movimento começam a ganhar força e a dar força a determinadas relações de poder. embora o MST mantenha fidelidade histórica ao ideal de humanidade legado pela ‘cruz’, a relação entre humanidade e verdade, não ficam isentas de levar ao sacrifício a humanidade e, por sua vez, também sacrifica a amizade e a relação do companheiro com os ‘de dentro’ e com os ‘de fora’ do Movimento, especialmente quando a polêmica.
4.4 Formação e sofrimento
“Na trajetória do MST, a relação com o sofrimento passou a se constituir como uma técnica de si, que não subtraiu o indivíduo do convívio, pelo contrário, o manteve necessitado, solidário e ocupado com o outro e com o coletivo. “A relação com o sofrimento transformou-se em quase-norma, fez-se socializadora no interior do MST”.
“A formação e o sofrimento marcaram as personalidades e deram força aos trabalhadores e trabalhadoras sem-terra na sua trajetória de resistência e luta contra o poder do Estado, do latifúndio e do ‘lado burguês’ da sociedade e, com isso, deixaram muita responsabilidade e passaram a experimentar, a instabilidade e a responsabilidade de conviver com a tensão, já caracterizada, de manter o lado corporativo institucional do Movimento e o seu lado aberto e agônico, ao mesmo tempo.
Essas marcas de personalidade também mostram que o grupo está ligado num contexto social muito abrangente, e dentro deste contexto aprendem em cada nova forma de união, que existe uma prova de caráter que valoriza o coletivo e o grupo em si como uma grande família.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST constitui um senso comum que se espalha por meios de comunicação e que não reflete exatamente o auge de grupos organizados no Brasil que reivindicam a representação dessa categoria social. No entanto esse grupo busca direitos de sobrevivência na humildade e na perseverança de um povo sofrido e batalhador. Apesar disso, não se pode desconhecer que foi este movimento que consagrou a categoria social “sem-terra” como uma forma social de reconhecimento público ao ocupar não apenas fazendas consideradas improdutivas, mas também prédios e espaços públicos em quase todo o país. A importância e o volume de suas ações contribuem para que o interesse sociológico acerca das suas formas de mobilização e de ação coletiva seja também vultoso.
2.1 História e Surgimento dos movimentos e do MST
O conflito pelas terras é um problema que vem se destacando a mais de um século no Brasil. A Lei de Terras de 1850, ao estabelecer a compra e venda como forma padrão de aquisição da propriedade fundiária se limitou fortemente à usucapião que foi a estrutura agrária desigual herdada dos tempos coloniais. É desse marco legislativo que se valem os historiadores para dividir a história dos conflitos agrários no Brasil independente, a partir de 1850, em duas fases distintas: A primeira fase, que iria de 1850 até 1940, é classificada como "messiânica", pois estas lutas estavam associadas à presença de líderes religiosos de origem popular, que pregavam ideologias de cunho milenarista, associados à mitologia relativa ao retorno de Dom Sebastião e ligados ao catolicismo popular. A segunda fase da luta pela terra no Brasil é definida como "lutas radicais localizadas" e que se desenvolvem de 1940 até 1955. Nesta fase ocorreram diversos conflitos e revoltas populares relacionadas as terras, em diversos lugares do Brasil, em lutas não mais de cunho messiânico, mas agora com demandas sociais e políticas claramente definidas como tais.
O tempo foi passando e de certa forma evoluindo, não se tinha mais grupos que lutavam por terra, mas sim, movimentos organizados que passaram a ser um pouco mais pacíficos e de certa forma mais organizados. No entanto o início dos anos sessenta mostra-se ainda como um período crucial para pensarmos questões relativas ao binômio, terra e política no Brasil. Ligas Camponesas, sindicatos de trabalhadores rurais e o Movimento dos Agricultores foram sem dúvida as principais manifestações públicas daquela onda, porém, falta de maior investimento sobre a história desses movimentos conduz uma dicotomia interpretativa para se refletir como os "sem-terra" de outrora se ligariam aos sem-terra de hoje, emblemados pelas bandeiras do MST.
2.2 Os movimentos Sem terras nas vésperas do golpe
No início da década de 1960, foi fundado pelo prefeito da cidade de Encruzilhada do Sul RS um grupo de sem terras mais organizados, com o nome de MASTER (Movimento dos Agricultores Sem Terra). “Isso se deu no momento em que um fazendeiro de um grupo político opositor tentava expulsar da terra agricultores, alegando ser ele o verdadeiro dono da terra. Não se tem notícia de nenhum tipo de ação coletiva que tenha sido realizada para garantir a posse daquelas terras, sabe-se apenas que houve a formação do movimento”.
Não se há notícia de nenhuma outra mobilização ou ação pública desse movimento até 1962, quando começaram as invasões, mais precisamente no dia 11 de janeiro do mesmo ano, quando centenas de pessoas montaram um acampamento com barracos de madeira e barracas de lona de caminhão às margens da rodovia que liga os municípios de Passo Fundo e Ronda Alta. Na época a Fazenda Sarandi, foi o foco da invasão, pois era uma propriedade de um grupo uruguaio que utilizava apenas uma pequena parte dela para exploração de madeira.
2.3 Os sem terras e a mudança de governo, ações coletivas em perspectiva interdependente.
A categoria "sem-terra" e as políticas públicas voltadas especificamente para ela se encerraram com o fim do governo de Leonel Brizola, ou seja, quando se desestrutura a figuração formada nos primeiros anos da década de 1960.
Com a mudança de governo, os acampamentos liderados pelo MASTER foram reprimidos e, após o golpe militar de 1964, seus principais organizadores foram presos ou fugiram do país. Apesar disso, permaneceram naquela região centenas de pessoas cadastradas como agricultores sem-terra. No entanto a categoria praticamente desaparece da vida social e das políticas de Estado, que irão privilegiar daí por diante, o tema da "colonização”. “Mesmo que tenham ocorrido acampamentos durante o governo seguinte, seus resultados foram nulos em termos de novos assentamentos”.
Após anos de espera e lutas perdidas sem muito sucesso um novo grupo tenta restaurar a força dos movimentos. No final da ditadura militar no período de transição surgiu oficialmente em Cascavel no Estado do Paraná o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para poder sair do papel sua formação obteve grande numero de reuniões acompanhadas de vários movimentos populares de luta pela terra. E em janeiro de 1984 o movimento se torna oficial.
Atualmente, o movimento está presente em 23 dos 26 Estados da federação. Faz-se necessário lembrar, também, que o MST não é o único movimento de luta pela reforma agrária. Existem atualmente dezenas de outros movimentos, por exemplo: o MAST (Movimento dos Agricultores Sem Terra), ligado à Social Democracia Sindical, o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), ligado a segmentos da esquerda, e o MUST (Movimento Unido dos Sem Terra), ligado à Força Sindical.
2.4 O MST na década de 1990/2000: Cruzando o país
O MST cresceu muito nos últimos anos e como já foi dito está presente em 23 dos 26 Estados da federação. “Porém ele é responsável por apenas um terço das ocupações de terras realizadas no Brasil o restante está dividido nos outros movimentos citados anteriormente, mesmo assim seu poder de força é muito grande e é o que mais tem destaque na mídia e no contexto geral da nação brasileira”.
“Seu maior foco de ocupação de terras está estabelecido no estado do Pernambuco onde o MST se estabeleceu na década de 1990. O caso pernambucano revelou também uma proliferação de outros movimentos de sem-terra. Por volta de 2003, haviam sido contabilizados pelo INCRA regional 14 movimentos diferentes que organizavam ocupações e reivindicavam desapropriações de terra”.
Alguns desses movimentos, como o Movimento dos Trabalhadores Brasileiros Sem-Terra (MTBST) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais e Urbanos do Brasil (MTRUB), contribuíram para que fossem trazidos ao debate novos elementos sobre o sentido das mobilizações do MST.
3. AÇÃO POLÍTICA DO MST
O MST conquistou um espaço político importante no quadro público atual, contrariando toda uma suposta tradição do povo brasileiro. Com humildade se infiltrou de forma inteligente no coração da política nacional conquistando respeito e admiração não só de grandes autoridades nacionais como também internacionais. Isso tudo derivado da determinação de um grupo coletivo que sofre preconceitos e represarias, mas que nem por isso desiste, e assim consegue se organizar, ter força política e desafiar os poderes constituídos.
3.1 O MST e o Governo
“O governo brasileiro considera o MST um grupo que atua de forma política e que conquistou um espaço político importante no quadro público atual”. Mas quando prestamos bem atenção na leitura cotidiana dos noticiários podemos perceber que na verdade o MST é o maior adversário do governo.
“Para se ter uma idéia da força política conquistada pelo MST durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, basta verificar a evolução da atenção que o governo federal tem dispensado ao movimento. Em 1994, ainda no governo de Itamar Franco, a Folha de S.Paulo informava que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) não sabia quantas invasões tinham sido efetivadas nos anos anteriores (Folha de S.Paulo, 05/04/94). Cinco anos mais tarde, as informações sobre o MST passaram a ser sistematicamente compiladas ao Gabinete de Segurança Institucional. Faz-se necessário ressaltar que dois acontecimentos importantes obrigaram o governo a dedicar maior atenção ao MST: o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996, e a Marcha a Brasília, realizada de fevereiro a abril de 1997.
“A postura do governo diante do MST mudou após o massacre de Eldorado dos Carajás. Percebeu-se a necessidade de coordenar melhor as ações para poder enfrentar o movimento e adotar uma linha mais dura com objetivo de impedir às invasões de sedes do INCRA e a ocupação de fazendas”.
“Durante a Marcha para Brasília foram convocados 900 homens do exército distribuídos em 12 agências regionais de inteligência, e ainda passaram a produzir um relatório durante os dois meses de duração da marcha do MST”.
Mesmo com toda essa organização, o governo subestimou a capacidade do MST de realizar uma marcha de dois meses até Brasília. "Até a chegada da marcha, o Planalto achava que a questão da terra tinha sido artificialmente inflada pelo massacre de Eldorado dos Carajás e pela novela O Rei do Gado. ‘Mesmo quando as pesquisas de opinião informavam que 80% da população queriam a reforma agrária, o governo sentou-se à mesa para conversar’. (Veja, 23/04/97)”.
“Os encontros entre o Presidente da República e representantes do MST também são importantes, pois é a partir deles que tanto o governo quanto o movimento se reconhecem mutuamente como interlocutores políticos, pois, o MST precisa do governo, da mesma forma que o governo não pode ignorar o MST”.
“O governo até pode desapropriar terras, conceder indenizações, garantir crédito aos assentados, estabelecer uma política agrária e executá-la, porém, sem a presença do MST, o número de mortes no campo seria, provavelmente, muito maior. A morte de um militante do MST é muito mais constrangedora para o governo do que o assassinato de um trabalhador rural não pertencente ao movimento”.
O MST consegue alguns resultados positivos, e a sua principal arma, até agora, tem sido a pressão exercida por meio das ocupações, que acaba se tornando a razão principal do seu crescimento. “Isso pode ser explicado melhor quando observamos a sua habilidade em construir ciclos e mantê-los sempre ligados à organização do movimento, de modo que eles se reforcem mutuamente”.
3.2 O MST e a Imprensa
“Não é preciso ser um observador muito atento para constatar que, quando o assunto é sem-terra, há consenso dos meios de comunicação a favor do governo. Acreditamos ser possível limitar a investigação à imprensa escrita a partir da análise dos editoriais. Pode-se ter uma boa idéia do posicionamento de cada jornal diante das questões, a pauta diária do noticiário dos órgãos de rádio e televisão pode ser sempre influenciada pelas matérias veiculadas na imprensa. A presença do MST nos editoriais dos jornais mais importantes do país já constitui uma prova bastante conclusiva da sua relevância como ator político na cena nacional”, como pode observar na publicação do Jornal o Estado de São Paulo (03/11/95): (...) ‘O Movimento dos Sem-Terra é hoje um ator de primeira grandeza na cena política quer pelo assentamento legal dos invasores’
Numa tentativa de quantificar a presença do MST Alguns editoriais tratam da reforma agrária ou da situação de agricultores sem-terra, mas não se referem diretamente ao MST. “Baseado nisso a CUT promove ações de solidariedade ao MST e realiza manifestações conjuntas com o movimento dos sem-terra. O fato mais significativo realizado pela CUT foi durante o mês de junho de 2000 quando a mesma promoveu 13 invasões em fazendas do Mato Grosso do Sul”.
“A CONTAG, por sua vez, também resolveu adotar uma linha de ação mais agressiva, e vem promovendo a ocupação de propriedades rurais, a exemplo do MST. O Jornal do Brasil (24/04/99) cita o ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso:” ‘Desde que a CONTAG se filiou à CUT, ela entrou na estratégia da violência, no sentido de praticar a invasão de terras’.
“O que o general, no entanto esconde, e o jornal não menciona, contudo, é que o próprio governo incentiva a rivalidade entre as organizações que lutam pela reforma agrária, com o objetivo de diminuir a força do MST”.
Porém o MST se mantém firme na “briga” e sempre organiza manifestações de massa, sejam elas marchas, acampamentos ou ocupações que acabam sendo a melhor maneira de evitar a repressão aos manifestantes. “É claro que cada passo sempre leva em conta o apelo jornalístico, e os estrategistas do MST sabem muito bem que montar um acampamento provisório em frente ao palácio do governo, ou diante de órgãos do governo ou agências bancárias, garante presença no noticiário da televisão e nos jornais. Já a ocupação de prédios públicos ou a concentração de militantes em frente à fazenda da família do Presidente da República, por sua vez, garante um lugar de destaque na imprensa, enquanto durar a mobilização”.
Essas estratégias realizadas pelo MST incomodam o governo, pois há uma dificuldade em combater a habilidade que o MST demonstra em aparecer na mídia. Para melhor efeito, seria muito mais confortável, para o governo, que o MST adotasse uma forma institucionalizada de oposição política, porém, mesmo que alguns integrantes do movimento acabam partindo para partidos políticos essa idéia é praticamente retirada da ideologia marxista do MST.
3.3 O MST e o Congresso
“Uma prova incontestável da força política do movimento dos sem-terra é que ele não precisa, ou não quer passar pela intermediação de um deputado para fazer com que suas reivindicações cheguem ao Executivo. De fato, os dirigentes do MST são recebidos diretamente pelo Presidente da República ou por seus ministros”.
A situação mais comum é aquela em que alguns parlamentares, geralmente de oposição, oferecem-se para solucionar uma situação de impasse, entre o governo e o MST. “Dessa forma, quando nenhum dos dois lados está disposto a fazer concessões, é freqüente ver parlamentares interessados num acordo se desdobrarem para marcar um encontro entre as duas partes. No entanto não é uma tarefa fácil, contudo, determinar com precisão quem são os deputados e senadores que apóiam o MST. O partido que oferece o apoio mais constante ao MST é o PT, já o PSDB e o bloco PMDB-PST-PTN posição em relação ao MST tem situação indefinida”, ou seja, palpitam apenas quando a situação esta praticamente resolvida.
“No início da legislatura de 1995, o Instituto de Estudos Sócio Econômicos (INESC) aplicou um questionário a todos os parlamentares sobre os temas mais polêmicos da agenda política nacional. Entre as perguntas elaboradas foi incluída uma questão sobre os conflitos de terra e a reforma agrária: O que é necessário para inibir os conflitos agrários? Dos 165 parlamentares que representam apenas um terço do total quase a metade dos que responderam apontou a reforma agrária como a melhor solução”. Mas vale lembrar que o questionário não apontou os nomes dos parlamentares que o responderam, assim na hora de honrar as respostas muitos se calam ou seguem a ideologia do PSDB, PMDB, PST e PTN, se mantém indefinidos e só palpitam quando tudo está praticamente resolvido. Mas de certa forma também sabemos que “O que vale é a intenção”.
“A despeito do potencial eleitoral demonstrado por alguns dos seus integrantes, o MST não acredita que a conquista de cadeiras no Congresso seja o melhor caminho para a luta pela reforma agrária. Podemos afirmar, portanto, que o MST não despreza nem desmerece o trabalho parlamentar, embora ele não seja visto como prioritário.
3.4 O MST e a Igreja
“A importância da Igreja como ator político, no Brasil, foi evidenciada durante o processo de redemocratização. Com efeito, no final dos anos 70 e começo dos 80. Na atualidade a Igreja é um interlocutor confiável entre o governo e os trabalhadores rurais. De acordo com José de Souza Martins (1986), a Igreja ‘tem um êxito muito grande na mobilização de populações camponesas, na criação de comunidades de base, etc.’ É justamente essa proximidade entre os padres e os trabalhadores rurais que explica a importância da Igreja na formação do MST.
“Segundo uma pesquisa feita pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais CERIS, quase a metade do clero brasileiro veio da Região Sul do país. Dois terços pertencem a famílias de classe baixa ou média-baixa. Enquanto 78% da população brasileira vivem nos centros urbanos, 64% do clero têm origem na zona rural. Três em cada quatro padres nasceram em cidades com menos de 20 mil habitantes”. O que leva a fácil conclusão o porque de a Igreja apoiar tanto os movimentos e também não se pode esquecer de ressaltar a parte cristã que prega que a terra é um direito de todo ser humano, já que nada é “nosso” e tudo vem do criador que é DEUS pai todo poderoso.
“Dois aspectos marcaram decisivamente a influência da Igreja sobre o MST. O caráter ecumênico da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a capilaridade dessa entidade nas camadas populares”.
“O apoio da Igreja à reforma agrária não se limita. O apoio logístico também é muito importante principalmente durante a Marcha a Brasília em 1997 quando a Igreja Católica permitiu a hospedagem em igrejas e casas paroquiais durante todo o trajeto, além de auxiliar na arrecadação de alimentos para os manifestantes. Estima-se que cerca de 15% dos recursos do MST sejam provenientes dessa rede de solidariedade internacional (O Estado de S.Paulo, 01/06/98)”.
“Feitas essas considerações é possível distinguir dois grupos distintos os eclesiásticos brasileiros: os progressistas e os conservadores. O Vaticano entende como justas as reivindicações do MST, apesar de não apoiar os seus métodos de ocupar propriedades particulares e agências bancárias para forçar o governo a liberar créditos. Daí os apelos do papa para que a reforma agrária seja feita de acordo com a lei e não se torne um ato de violência”. Todos nós sabemos que se o governo realmente quisesse não teria violência e o fato é simples como o Papa mesmo disse: ‘que se faça a reforma agrária de acordo com a lei’.
3.5 O MST e a opinião política
“No caso específico do MST, a opinião pública tem se revelado um elemento importante para as decisões do governo e é preciso considerar que, numa sociedade majoritariamente urbana como a sociedade brasileira contemporânea, as lutas do campo só conseguem se projetar nacionalmente se tiverem o respaldo e o reconhecimento da população das cidades. Com efeito, os moradores de áreas rurais representam apenas um quinto da população brasileira. Assim sendo os 80% restantes que moram em áreas urbanas são decisivos para o futuro de qualquer movimento agrário”.
O MST tem consciência que apenas com os votos de áreas rurais não é possível mudar a correlação de forças na Câmara dos Deputados ou no Senado. Por isso a importância de atos e manifestações nas cidades.
Do ponto de vista dos dirigentes do MST, trata-se de conscientizar, e não de atrapalhar. “De fato, raramente vêem-se militantes do MST bloqueando uma avenida ou impedindo funcionários públicos de entrar no seu local de trabalho. Na maioria das vezes os manifestantes estão ocupando a entrada ou o saguão principal do prédio para forçar uma audiência com as autoridades responsáveis”. O objetivo principal das manifestações nas cidades é fazer conhecer as suas reivindicações e conseguir o apoio das populações urbanas às causa da reforma agrária. “O apoio do MST às lutas urbanas é considerado uma forma de solidariedade entre trabalhadores”.
”Pesquisas de opinião pública, realizadas ao longo dos últimos anos mostram que o MST conta com o apoio da maioria da população brasileira. O apoio à reforma agrária varia entre 80% e 94%, enquanto aproximadamente dois terços da população considera o MST um movimento legítimo. Durante a marcha do MST a Brasília, em 1997, a popularidade do movimento esteve no seu auge, chegando a 77% de apoio”.
“Apesar de grande parte da população brasileira, ser favorável à reforma agrária, ela não está disposta a tomar iniciativas que a viabilizem, pois, indiretamente a imprensa interpreta e transmite que os movimentos não estão interessados apenas na reforma agrária, mas também na revolução e na agitação política”. Isso faz com que muitos pensam que a reforma agrária não seja considerada prioridade e mesmo havendo vários projetos de reforma agrária, nem todos que se dizem favoráveis a ela concordam necessariamente com a reforma agrária pretendida pelo MST, fazendo com que o movimento em algumas vezes passe por vilão.
“Resta ainda tratar da repercussão internacional do MST. O movimento foi objeto de diversas reportagens em grandes jornais estrangeiros, periódicos e emissoras de televisão, sobretudo depois do massacre de Eldorado dos Carajás, noticiado em 61 idiomas (IstoÉ, 24/04/97). A marcha dos sem-terra a Brasília teve como resultado aumentar ainda mais o interesse no assunto, como testemunha o ministro da Saúde, José Serra”: ‘A marcha a Brasília comandada pelo MST elevou ao máximo a simpatia internacional pelos pobres brasileiros’.
O MST tem consciência da importância desse apoio externo e da sua influência no tratamento dispensado ao movimento pelo governo. Como se pode verificar, o MST não ocupa apenas terras e prédios públicos, mas ocupa também reuniões de ministros, discursos do presidente, relatórios dos serviços de inteligência, editoriais de jornais, manchetes nos noticiários, pronunciamentos de parlamentares, conversas entre o presidente e o papa, pesquisas de opinião pública e até protestos nas visitas do presidente ao exterior.
“O governo só percebeu a força do movimento em 1997, a partir da Marcha a Brasília. Naquele ano o MST esteve no auge, os editoriais de jornais passaram a tratar periodicamente do MST e a reforma agrária contava com o apoio de 94% da população”.
4. MST ESCOLA DA VIDA EM MOVIMENTO
O MST possui uma trajetória formativa, detendo-nos na analisar as atitudes desse grupo que tem o poder de juntar e de formar um discurso-ação constituído na experiência em questão que leva o povo sofrido a juntar-se ao grupo e assim formar uma grande família que busca direitos e que luta pela vida e pela sobrevivência. Por onde passam seja mal vistos ou bem vistos os grupos que compõe o MST deixam marcas, não de lutas físicas, mas sim de lutas pela moralidade, pela união e principalmente pela sobrevivência.
4.1 Sujeitos em movimento, um discurso de ação
“A vivência dessas condições, associada a tais utopias, passou a se desdobrar em lutas cada vez mais profundas contra os arranjos societais e na organização de comunidades de projeto. Lutas que os têm levado a impugnar relações de poder e verdades a elas associadas que, historicamente, os classificava como sem-terra, sem lugar e sem futuro. Mas não sem antes experimentar o vazio de possibilidades de vida que a seqüência de atos de exclusão legou-lhes”.
“Com isso, contribuíram para que, no interior do Movimento, se pudesse associar ‘história e memória’, fazendo ‘o passado das lutas do povo como seu’ (Caldart, 2000, p. 236), isto é, de cada trabalhador e trabalhadora do MST e do Movimento em si. E fazendo da memória da morte uma obrigação de vida, a continuidade da tarefa do amigo que morreu na luta”.
“Um dos elementos mais fortes de identificação, para os trabalhadores e trabalhadoras sem-terra e para o Movimento, é a terra: terra para trabalhar, produzir, morar, viver, morrer. Princípio que tem coerência com a visão de história presente no Movimento, que é a de ‘enxergar cada ação ou situação particular em um movimento contínuo entre passado, presente e futuro’, compreender ações e situações em suas relações e como parte de uma totalidade maior”.
4.2 Uma forma de vida
“Os princípios do Movimento, a sua pedagogia, os valores que afirma, os saberes e as marcas que vêm produzindo como: ter uma direção coletiva, divisão de tarefas respeitando aptidões, disciplina, estudo, formação de quadros, luta de massas e vinculação permanente entre direção do Movimento e base; pedagogia que vê a própria experiência ‘de ser Movimento, construir o Movimento e construir-se como Movimento’, ao mesmo tempo, como sujeito e como princípio pedagógico do MST. E que elege como matrizes pedagógicas: a pedagogia da luta, a da ação coletiva, a pedagogia da terra, do trabalho e da produção, a da cultura e a pedagogia da história (Caldart, 2000, p. 204-237)”.
4.3 A Amizade no MST
“A forma de vida criada no âmbito da luta que constituiu o MST constituiu-se na própria expressão do companheirismo. Na experiência-limite que desafiou a construção de espaços de comunicação e ação dos trabalhadores e trabalhadoras sem-terra que os transformou em companheiros”.
“A relação, entre indivíduos, famílias e o coletivo criado no acampamento, permeada por sentimentos que, associados, deram vida a essa amizade cuja origem pode ser associada à diversidade de formas de exposição de cada corpo à violência da exclusão, violência que transforma as relações entre os sujeitos num misto de ‘necessitação’ e repulsa, enquanto a confiança não chega. Características dessa amizade ético-política despontam na sistematização das vivências que os intelectuais do Movimento apresentam, ajudando-nos a compreender a forma de vida companheira nascida com a constituição do MST”.
O MST virou uma grande família com anos e meses de acampamento, “as pessoas aprenderam que até o açúcar tem que dividir de manhã. Para ir prá uma caminhada, prá uma marcha, prá uma ocupação, o objetivo é que, o que é meu é de todo mundo. como toda família no MST também existe divergência interna, isso ninguém esconde nos assentamentos”.
O MST possui uma série de maneiras e reflexões internas que trazem a todos uma reflexão profunda sobre a real forma marxista do MST como:
a) complementaridade do diverso e solidariedade
“Um dos desafios apresentados ao MST, em sua história, foi conviver com a diversidade dos sujeitos que reuniu, aproveitando suas habilidades e capacidades individuais para configurar um coletivo com amplo espectro de ‘competências’ nos âmbitos da organização, mobilização, lazer, fazer técnico e educação. Isso acolheu e deu organicidade ao coletivo e atuou no sentido de afastar a competitividade e dar margem ao estabelecimento de nova lógica nas relações”.
b) da ação política ao acolhimento
“Na seqüência de atos que passaram a protagonizar os sem-terra fizeram dos acampamentos um lugar de espera, mas da espera-ação. Lugar onde as formas de relacionamento não foram previamente prescritas, ao mesmo tempo, uma necessidade de invenção. Foi também esta espera-ação-ético-política, que aliou sofrimento formação política e possibilitou o desabrochar de uma nova sociabilidade e de subjetividades, fenômenos que, ao serem vividos com a cumplicidade do companheiro, não perderam a intensidade”.
c) da fraternidade ao agonismo
“O acolhimento fraternal agregou, à relação de companheirismo, vontade de construir equilíbrio de forças, Agregou a vontade de pautar tal relação pelo jogo estratégico de "agir sobre o outro com o mínimo de domínio", que acompanha o agonismo provocador, que incita os sujeitos em relação a desencadearem crítica e criação. A fraternidade possibilitou a configuração de uma convivência companheira caracterizada por manter relações democráticas, cuidá-los como irmãos, compartilhar desejos e direitos, e também dialogar, fazer escolhas, tomar decisões.
d) historicidade e humanidade
“À medida que o MST avança como instituição, e o seu discurso-ação ou, como dizem os assentados, o seu ‘projeto’ vai se ‘completando’, as verdades do Movimento começam a ganhar força e a dar força a determinadas relações de poder. embora o MST mantenha fidelidade histórica ao ideal de humanidade legado pela ‘cruz’, a relação entre humanidade e verdade, não ficam isentas de levar ao sacrifício a humanidade e, por sua vez, também sacrifica a amizade e a relação do companheiro com os ‘de dentro’ e com os ‘de fora’ do Movimento, especialmente quando a polêmica.
4.4 Formação e sofrimento
“Na trajetória do MST, a relação com o sofrimento passou a se constituir como uma técnica de si, que não subtraiu o indivíduo do convívio, pelo contrário, o manteve necessitado, solidário e ocupado com o outro e com o coletivo. “A relação com o sofrimento transformou-se em quase-norma, fez-se socializadora no interior do MST”.
“A formação e o sofrimento marcaram as personalidades e deram força aos trabalhadores e trabalhadoras sem-terra na sua trajetória de resistência e luta contra o poder do Estado, do latifúndio e do ‘lado burguês’ da sociedade e, com isso, deixaram muita responsabilidade e passaram a experimentar, a instabilidade e a responsabilidade de conviver com a tensão, já caracterizada, de manter o lado corporativo institucional do Movimento e o seu lado aberto e agônico, ao mesmo tempo.
Essas marcas de personalidade também mostram que o grupo está ligado num contexto social muito abrangente, e dentro deste contexto aprendem em cada nova forma de união, que existe uma prova de caráter que valoriza o coletivo e o grupo em si como uma grande família.
CONCLUSÃO
O que se pode analisar de fato sobre o contexto geral do MST, é que esse grupo possui uma organização muito interessante que visa lutar pela justiça e pelo direito a vida. Suas idéias filosóficas, econômicas, políticas e sociais são de origem marxista e compreendem o homem como um ser social histórico com capacidade de trabalhar, de evoluir o fruto do trabalho possibilitando o progresso de sua emancipação, fazendo com que aja um desenvolvimento das potencialidades humanas.
De acordo com os autores dos artigos aqui descritos neste resumo a idéia de se formar um movimento social que reivindica o direito pela terra, já vem de séculos anteriores, no entanto, sempre esbarrou em algo que não deixasse a idéia fluir. Quando no auge do Governo de Leonel Brizola no Rio Grande Sul tudo parecia dar certo para o grande surgimento de um grupo como o MASTER que reivindicasse os direitos pela terra, eis que surge o golpe militar que fez com essa idéia “empolgante” não fluísse e o que já estava pronto acabou desmantelado, com seus principais organizadores presos ou fugindo do país.
O governo militar de certa forma se preocupou, e para não trazer uma revolta total do povo, usou de forma discreta e camuflada o termo reforma agrária mais com o nome de “Novos Assentamentos”. No entanto, não permitiu a organização de grupos, isso é fácil de entender por que os mesmos possuíam idéias marxistas as quais traziam traços de certa forma comunistas de uma ideologia política e socioeconômica, que pudesse talvez promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátrida. Porém todos sabemos que a inteligência é algo que ninguem pode nos tirar, e muitos dos líderes se mantiveram em sigilo apenas pensando em estratégias. No final da ditadura mais precisamente no período de transição eis que resurge como a fenix o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que continua com sua política marxista para a alegria do povo que esperava por um pedaço de chão.
Mesmo percebendo que os autores dos artigos colocam não do ponto de vista deles, mas de parte da sociedade críticas ligadas ao MST, sabe-se que em qualquer lugar existem os frutos podres do cesto, não podemos criticar um grupo que visa buscar sobrevivência por causa de uns e outros. A história nos mostra que mesmo antes de o grupo se apresentar como MST já vinha com uma filosofia de trabalho e de sobrevivência. Deve-se antes de mais nada incentivar e investir nesses grupos, pois eles são uma forma organizada de distribuição correta, sabem a necessidade de cada integrante, pois vivenciam o dia-a-dia a luta e sofrimento de cada um. O MST não visa riqueza, apenas uma distribuição justa de terras, e não de terras produtivas e sim de terras abandonadas improdutivas para que se possa recuperá-las e viver sobre elas com dignidade, produzindo alimento para manter a vida livre de fome e miséria. Como se sabe a política do MST é marxista e é ligada numa teoria de sociedade igualitária, onde se valoriza o ser humano pelo que ele é e não pelo que tem, onde se possa romper a raiz da propriedade privada burguesa que muitas vezes não produz, transformando-se numa base produtiva no sentido da socialização dos meios de produção.
REFERÊNCIAS
FALKEMBACH, Elza Maria Fonseca. MST, "escola da vida" em movimento. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622007000200003 >Acesso em: 16, de outubro de 2011 às 16:10 Hs.
WIKIPÉDIA. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Brasil, 2011. Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_dos_Trabalhadores_Rurais_Sem_Terra > Acesso em: 26 de Outubro de 2011 às 15:39 Hs.
MST. Quem somos nós. Brasil, 2009. Disponível em < http://www.mst.org.br/node/8629 > Acesso em: 26 de outubro de 2011 às 17:00 Hs.
ROSA, Marcelo Carvalho. Sem-Terra: os sentidos e as transformações de uma categoria de ação coletiva no Brasil. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64452009000100007&script=sci_arttext > Acesso em: 16 de Outubro de 2011 às 17:00 Hs.
COMPARATO, Bruno Konder. A Ação Política do MST. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000400012 > Acesso em: 16, de outubro de 2011 às 15:26 Hs.
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